A solução para a guerra em curso entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas “tem de ser imposta a partir do exterior porque as duas partes nunca conseguirão chegar a acordo. Tem de ser a comunidade internacional a impô-la”, afirmou Josep Borrell, durante o Seminário Diplomático, que decorre hoje e quinta-feira em Lisboa.
A guerra entre palestinianos e israelitas “é um problema territorial” entre “dois povos que têm direitos legítimos a uma terra”, referiu o alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, considerando que “a única solução é que partilhem [o território] ou que um deles desapareça”.
Borrell lembrou que “há 30 anos que se defende a solução de dois Estados”, mas “o radicalismo do Hamas e a extrema-direita de Israel não o têm permitido”.
E, embora os últimos anos tenham criado “uma ilusão de que o Médio Oriente estava pacificado”, o ataque de 07 de outubro “pôs em evidência a debilidade” da paz entre as duas partes agora em confronto.
O Hamas atacou, de forma inesperada e inédita, o território israelita em 07 de outubro, provocando, segundo as autoridades de Telavive, cerca de 1.200 mortos, a maioria dos quais civis.
Mais de 200 pessoas foram também sequestradas nesse dia e levadas para a Faixa de Gaza, das quais mais de 120 ainda permanecem em cativeiro no enclave, território controlado pelo Hamas, considerado uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por Israel.
Em retaliação, Israel declarou guerra ao Hamas, bombardeando Gaza diariamente e provocando, segundo as autoridades locais, controladas pelo grupo islamita, mais de 22.000 mortos, além de bloquear o acesso a bens essenciais como água, medicamentos e combustível.
“O que estamos a aprender [com esta guerra e com o passado] é que a solução tem de ser imposta pela comunidade internacional”, insistiu hoje Josep Borrell.
“Os Estados árabes já avisaram que está fora de questão voltarem a financiar a reconstrução de Gaza – esta seria a quarta vez - se não houver uma solução que comprometa a comunidade internacional”, adiantou o representante europeu.
Por outro lado, recordou, “o Hamas não quer a solução de dois Estados e Israel também não”, pelo que o cenário tem de ser forçado externamente.
“Se isto [a guerra] não acabar rapidamente, todo o Médio Oriente vai entrar ‘em chamas’”, advertiu, referindo que, em menos de três meses de conflito, “já há mais de 20 mil mortos, dois milhões de deslocados e Gaza tornou-se numa cidade mais destruída do que estava Varsóvia quando acabou a II Guerra Mundial”.
Mas a necessidade de a comunidade internacional impor uma solução no Médio Oriente também mostra as fraquezas da própria UE, admitiu o chefe da diplomacia europeia.
Ao contrário do que aconteceu em relação à guerra na Ucrânia, “não conseguimos ter uma posição unânime” relativamente à Palestina e Israel, lamentou Borrell.
“Só conseguimos um acordo para apoiar pausas humanitárias e, quando chegamos às Nações Unidas, esse consenso rompeu-se”, referiu o político, sublinhando que a falta de união “debilita a Europa” e facilita as críticas de que “há comportamentos diferentes [‘double standards’]” relativamente a diferentes conflitos.
Josep Borrell participou hoje, como convidado especial, no primeiro dia do Seminário Diplomático, encontro anual promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros com os diplomatas portugueses para debater as prioridades da política externa.
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