"Pelo menos no continente, mas eu penso que não deverá ser muito diferente nos Açores, porque a situação é de grande escala, em princípio o que apontamos é que apesar de estar prevista uma anomalia positiva de temperatura, ela não tem um valor muito elevado, portanto a nossa expectativa não é uma expectativa de grande dramatismo", apontou, acrescentando que na Europa média e na Europa do norte se está a prever "um grau e meio de anomalia, que é um valor enorme".
Jorge Miranda recomendou ainda assim que a consulta das previsões para o próximo verão sejam feitas semana a semana na página da internet do IPMA.
O presidente do conselho diretor do IPMA falava, em declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, à margem do I Congresso Internacional de Proteção Civil dos Açores, com o tema "Os Novos Desafios: Ameaças versus Capacidades", em que integrou um painel sobre alterações climáticas.
Segundo Jorge Miranda, nos dias que correm, já não há dúvidas sobre as alterações climáticas e os fenómenos meteorológicos extremos, associados a essas mudanças, sendo que já são a quarta fonte de prejuízos no mundo.
As alterações que estão a decorrer nos oceanos não se resolvem num curto espaço de tempo, mesmo que se imponham limites drásticos. No entanto, o presidente do IPMA considera que a adaptação a esse cenário surgirá naturalmente através da ação do sistema económica e não de medidas políticas.
"O sistema económico vai ser mais inteligente do que o sistema político", frisou, alegando que já se estão a notar dificuldades no financiamento da exploração de poços de petróleo.
Quando as grandes empresas perceberem que "os investimentos não verdes são economicamente ruinosos", a mudança de atitudes será natural, sustentou também o investigador.
"Todos os grandes desastres naturais dos tempos recentes têm levado a um stress brutal sobre as empresas de seguros e de resseguros", apontou.
A previsão de fenómenos meteorológicos extremos vai obrigar a um reforço de meios de observação, mas também a uma melhoria da comunicação.
"Temos de nos preparar para um mundo mais complexo em que os media têm um papel muito importante, porque a informação vai circular às vezes mais depressa paralelamente aos sistemas oficiais e as pessoas têm de ser capazes de compreender o que é que é verdade e o que é que é falso", alertou o presidente do IPMA.
Já o coordenador do Grupo do Clima, Ambiente e Paisagem do Instituto de Investigação e Tecnologia Agrária e do Ambiente da Universidade dos Açores Eduardo Brito de Azevedo apresentou uma visão mais pessimista quanto à adaptação às alterações climáticas.
"Estamos a seguir o caminho errado, o caminho de uma atividade que nos conduzirá a uma situação climática dos cenários mais gravosos", salientou, referindo-se às emissões de dióxido de carbono.
Para Eduardo Brito de Azevedo, a educação ambiental e a sensibilização dos jovens é "fundamental", mas são necessárias "políticas radicais", que obriguem as instituições a adequarem os seus comportamentos.
"Não temos tempo suficiente para esperar que sejam os nossos filhos ou os nossos netos a resolver este assunto", alertou.
Segundo o investigador da academia açoriana, já se sentem efeitos das alterações climáticas no arquipélago, com um aumento das temperaturas e uma diminuição da precipitação em zonas baixas.
Brito de Azevedo salientou que as mudanças climáticas têm provocado períodos de seca com maior frequência, mas também tempestades mais frequentes e violentas, o que já começa a ter impacto na agricultura.
O I Congresso Internacional de Proteção Civil dos Açores decorre até sexta-feira em Angra do Heroísmo, abordando temas como as alterações climáticas, a Proteção Civil em Portugal, a comunicação em emergência, a gestão de riscos, o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, a intervenção psicossocial em emergência e a emergência médica pré-hospitalar.
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