Em comunicado enviado à Lusa, o grupo afirma que aquele evento foi o mais “letal envenenamento intencional de abutres do mundo”.
Segundo o grupo, foram mortos mais de 2.000 abutres da espécie Necrosyrtes monachus (abutre de capuz), uma espécie em perigo de extinção, que consta da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.
“Os abutres terão sido envenenados propositadamente para remover as suas cabeças para alimentar o comércio ilegal destinado à utilização de várias partes do seu corpo (cabeças, asas, unhas e patas) em práticas de feitiçaria em diversos países da África Ocidental”, pode ler-se no comunicado.
Mohamed Henriques, luso-guineense doutorando do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e primeiro autor do artigo, disse que “centenas de cadáveres destes abutres encontravam-se sem cabeça, empilhados e intencionalmente escondidos sob arbustos”.
As suspeitas de envenenamento foram confirmadas pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.
“As análises de toxicologia demonstraram inequivocamente que a causa de morte foi o envenenamento por metiocarbe, um inseticida vendido sob o nome comercial de Mesurol, que é, entre outros usos, frequentemente aplicado como controle de lesmas e caracóis e que foi recentemente banido na Europa devido à sua toxicidade para a vida selvagem”, indica José Pedro Tavares, diretor da Fundação de Conservação de Abutres, e um dos coautores do artigo.
Os autores da carta à revista Sciente alertaram que o veneno é responsável pela morte de 30% dos abutres no continente africano e que só na África Ocidental desapareceram entre 60 a 70% de populações de várias espécies nos últimos 30 anos.
“A Guiné-Bissau alberga mais de um quinto da população mundial desta espécie, sendo atualmente um dos países mais importantes para a conservação da espécie a nível mundial”, salienta um outro autor do estudo, Paulo Catry, investigador e Professor auxiliar do Centro de Ciências do Mar e Ambiente do ISPA.
A morte daqueles abutres na Guiné-Bissau representa o desaparecimento de mais de 1% da população mundial daquela espécie.
Segundo Mohamed Henriques, os abutres têm uma função essencial para os humanos e ecossistemas, porque eliminam grande parte do lixo orgânico nas cidades e vilas do país, evitando a proliferação de doenças.
Os autores da carta apelam também para a necessidade de serem feitas campanhas de sensibilização para a proteção da espécie.
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