Desenvolvido pela Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, em parceria com a Aprosoc - Associação de Proteção e Socorro e a WIT-Software, o projeto prevê a constituição de equipas locais de resposta e emergência, que devem entrar em funcionamento até 01 de junho do próximo ano.
Segundo a presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Nádia Piazza, no âmbito do plano de ação que está a ser elaborado para cada uma das aldeias "vão surgir as equipas locais de resposta e emergência, que vão ser treinadas, e as aldeias vão ser equipadas".
O projeto, acrescentou, está incluído no Plano de Revitalização do Pinhal Interior (região Centro), que deve ser aprovado muito brevemente em Conselho de Ministros, com o nome de "Aldeia Segura".
"Temos alimentado a firme convicção de que pessoas e aldeias devem ser mais resilientes e têm de contar consigo próprias, porque foi o que aconteceu [em junho]", disse Nádia Piazza, salientando que, em situações limite, como a que aconteceu, não se pode “contar com ninguém, com nenhuma estrutura pública ou associativa".
A presidente da associação entende que, depois de "aprendida a lição”, há que “retomar algum saber do passado e a população local tem de ter formação e estar preparada para os primeiros socorros e intervenção nos incêndios".
Para já, na primeira fase do projeto, estão a ser inventariados os equipamentos de cada aldeia, casas devolutas, de primeira e habitação, população permanente e sazonal, idosos, acamados, crianças, pontos de encontro, equipamentos, infraestruturas, pontos de água e carrinhas com caixa aberta para carregarem motobombas.
"O nosso questionário está a ser melhorado conforme as entrevistas vão ocorrendo", sublinhou a dirigente, salientando que os parceiros no projeto são uma associação específica na área da proteção e socorro e parceiro de base tecnológica, que "é uma das melhores empresas do mundo".
De acordo com Nádia Piazza, o projeto-piloto "Aldeias Resilientes" conta atualmente com 30 voluntários das três entidades envolvidas.
O objetivo é ajudar as 25 aldeias a recuperar ancestrais responsabilidades das comunidades na área da proteção, sem esperar pelos resultados das medidas estruturais nos concelhos devastados pelos fogos.
“No passado, as pessoas defendiam-se” nas povoações do interior montanhoso, disse à agência Lusa Nádia Piazza, sublinhando que atualmente “o risco existe e pode não haver Estado para as socorrer”.
Nas últimas décadas, assinalou, as comunidades do mundo rural “foram entregando ao Estado e diferentes organizações” a responsabilidade pela sua segurança e socorro, mas o ordenamento florestal nas zonas atingidas pelos incêndios dos últimos meses “vai levar tempo” e é nas aldeias que “as pessoas devem estar”.
“O que é conjuntural falhou e o que é estrutural ainda leva tempo” a produzir resultados, designadamente a reflorestação das áreas ardidas, com preponderância de folhosas e outras espécies autóctones, salientou Nádia Piazza.
Durante os incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande e Góis no dia 17 de junho, alastrando para municípios vizinhos, e que causaram 64 mortos nos registos oficiais (além de uma mulher atropelada quando fugia do fogo) e mais de 200 feridos, “foi nas aldeias que as pessoas ficaram quando tudo falhou”, enfatizou.
Comentários