As conclusões ao acidente com um Fire Boss, que acabou imobilizado numa das margens, no concelho de Castro Marim, distrito de Faro, após a terceira manobra de 'scooping' (recolha de água), constam do relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve hoje acesso.

“O piloto, embora cumprisse com os requisitos mínimos de formação inicial e recorrente no modelo específico anfíbio, tinha uma experiência limitada na aeronave, onde realizou a maioria das horas na versão terrestre, com configuração de roda de cauda”, refere o GPIAAF.

Além da reduzida experiência do piloto (de 56 anos e que saiu ileso) neste tipo de avião (que sofreu danos ligeiros), os investigadores apontam duas outras razões que contribuíram para que o Air Tractor Fire Boss, operado pela empresa CCB-Serviços Aéreos, Lda, acabasse por ficar imobilizado numa das margens da barragem.

“Não será de excluir que a técnica de pilotagem e de 'scooping' do piloto, com uma elevada atitude de nariz em cima, tenha contribuído para que a aeronave não atingisse a velocidade desejada para a descolagem, precipitando as sucessivas decisões de descontinuar (três vezes) a descolagem”, descrevem os peritos.

A técnica de 'scooping' é definida pelo fabricante "como uma manobra que requer uma experiência consolidada do piloto". Os investigadores frisam que a "aeronave tende naturalmente a colocar o nariz em baixo durante a manobra de recolha de água, sendo necessário um controlo efetivo e cuidado na gestão da atitude da aeronave".

O GPIAAF alerta que a operação de combate aos incêndios “é uma atividade complexa, não só pelos equipamentos utilizados, mas sobretudo pela natureza do voo (a baixa altitude, cumprimento da missão atribuída, obstáculos, fumo, temperaturas)”, sublinhando que “é efetivamente necessária uma gestão e atenção contínua por parte do piloto”.

A parelha de aeronaves Fire Boss (A23 e A24), com base no Aeroporto de Beja, foi chamada às 16:42 de 25 de julho para combater um incêndio na zona do concelho de Silves, distrito de Faro.

As aeronaves descolaram em direção à Barragem de Beliche (ponto de recolha informado pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil), com o objetivo de fazer a carga de água e prosseguir para o incêndio.

“Adicionalmente, os aviões operam em parelha, sendo necessária uma absoluta cooperação e coordenação entre os dois tripulantes. Durante a missão houve um sentimento de pressão adicional sobre o piloto da aeronave acidentada por parte do seu par, mais experiente e em total espírito de missão focado no combate ao incêndio”, lê-se no relatório do GPIAAF.

Durante o processo de investigação interno, o operador “decidiu proceder à implementação de um conjunto de medidas por forma a mitigar as falhas identificadas na operação”, nomeadamente a de “promover um curso de refrescamento em CRM" (Crew Resource Management - coordenação e adequado relacionamento entre os membros da tripulação para assegurar o melhor desempenho possível) "para todos os elementos envolvidos na operação de combate aos incêndios”.

Além disso, a CCB-Serviços Aéreos, Lda vai “promover ações de uniformização e treino conjunto dos pilotos na operação de combate aos incêndios com procedimentos e técnicas standardizadas, aceites e adotadas por todos os pilotos”, por exemplo, em “técnicas de aproximação, 'scooping', avaliação da carga de água para as condições locais e descolagem”.

Mapear, desenvolver, divulgar detalhadamente e treinar todos os pilotos nos pontos de recolha de água ('scooping'), pelo menos nas zonas da operação expectável da empresa, são outras das medidas a implementar por este operador aéreo.

O acidente com este Fire Boss, em 25 de julho, no Algarve, foi o segundo do género este ano, depois de, em 03 de julho, um outro Fire Boss ter ficado totalmente destruído também durante uma manobra de 'scooping' no Zêzere, na zona de Trizio, concelho da Sertã, no distrito de Castelo Branco.

Este primeiro acidente com outro Fire Boss deveu-se ao facto de o piloto não ter recolhido o trem de aterragem, segundo o GPIAAF.