“A única situação identificada de pessoas a viver em tendas, nas zonas dos incêndios de 2017, foi registada em Arganil pela respetiva câmara municipal. Trata-se de pessoas que já viviam em tendas, antes dos incêndios, por opção de vida das famílias”, refere uma curta nota de imprensa do gabinete de Pedro Marques enviada à Lusa, após uma associação de vítimas ter questionado declarações do ministro no parlamento.
O movimento associativo de apoio às vítimas do incêndio de Midões (Maavim) manifestou hoje indignação pelo facto de o ministro ter dito que não existem pessoas a viver em rulotes, na sequência dos fogos de 2017.
Pedro Marques disse na quarta-feira, no parlamento, desconhecer a existência de situações precárias de alojamento devido aos incêndios de 2017, após ter sido confrontado pelo PCP e pelo PSD sobre famílias a viver em rulotes e tendas.
Hoje, numa nota enviada à agência Lusa, aquela associação representativa das vítimas garante que, seis meses após os incêndios que mataram 49 pessoas, nenhuma primeira habitação foi ainda construída e que “existem pessoas a viver em ‘roulottes’, garagens, casas emprestadas e de familiares, sem qualquer ajuda”.
“Principalmente no concelho de Arganil, Oliveira do Hospital, Seia, Tábua, entre outros concelhos, são dezenas os casos verificados por esta associação. Mais informamos que também muitos são os casos de rejeição à construção das habitações e outros os que não foram aceites como primeira habitação, por diversos motivos”, refere a nota.
A associação liderada por Fernando Tavares Pereira, que remeteu também à Lusa uma mensagem enviada em fevereiro a diversos ministros – entre os quais Pedro Marques -, ao Presidente da República e ainda ao primeiro-ministro, com um conjunto de alertas de reivindicações, nomeadamente sobre agricultura e habitação, diz também haver vários casos de relatos de pessoas em habitações indignas, nomeadamente na comunicação social.
“Vários têm sido relatados pelas próprias pessoas e pela comunicação social. O sr. ministro não conhece os casos porque não os vem ver. No caso das segundas habitações, o sr. Ministro empurra para os municípios e os municípios nada dizem sobre esses ditos apoios", lê-se na nota.
A associação defende que é necessária a agilização de processos para que tudo seja revisto, principalmente os Planos Diretores Municipais (PDM).
"O que foi dito ontem pelo sr. ministro demonstra uma falta de conhecimento do que se passa na realidade nos concelhos afetados pelos incêndios de outubro”, concluem.
Na quarta-feira, Pedro Marques reconheceu que a destruição de primeiras habitações deixou as famílias em situações precárias de alojamento, mas garantiu que “todos os casos reportados estão em casa de familiares”, assegurando que não há informação de pessoas a viver em instalações móveis.
“Se houver casos de pessoas a viver em tendas, não conheço nenhum. Se quiser fazer chegá-los diretamente, vamos à procura de uma solução para essas famílias”, declarou o ministro, reforçando que é necessário ter “informação concreta dessas situações para poder tentar resolvê-las”.
“Garanto que não encontrei nenhuma família a viver em tendas”, frisou Pedro Marques, referindo que visitou vários concelhos afetados pelos incêndios florestais de junho e de outubro de 2017 e que falou com várias dezenas de famílias.
No âmbito de uma audição na Comissão de Agricultura e Mar, requerida pelo PCP, sobre as medidas relacionadas com os incêndios florestais de 2017, o deputado comunista João Dias criticou o Governo por “anunciar apoios de milhões” quando “no terreno há centenas de pessoas a viver com dificuldades, em carros, tendas, ‘roulottes’ e casas de amigos”.
Já a deputada do PSD Emília Cerqueira disse ter recebido “denúncias de pessoas a viver em ‘roulottes’, tendas e em casas de familiares”.
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