“Todo o mês de junho era um mês que vivia muito às custas das festas de São João, em Angra [do Heroísmo]. Não temos propriamente uma estimativa do impacto, mas estamos a falar de umas centenas de milhares de euros, para milhões”, avançou hoje em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), Rodrigo Rodrigues.
As festas concelhias de Angra do Heroísmo celebram todos os anos o São João durante 10 dias, com cortejos, marchas populares, música, gastronomia, tauromaquia, desporto e exposições, entre outras atividades, atraindo milhares de pessoas à ilha Terceira.
Este ano, as Sanjoaninas estavam agendadas para o período entre 19 e 28 de junho, mas em finais de março a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, responsável pela organização, decidiu cancelar as festividades, devido à pandemia da covid-19.
“Creio que é a decisão sensata e a possível. Não há outra solução neste momento. As condições aconselham que se faça isto. Nós como gente que sabe fazer a sua festa e sabe trabalhar para isso, quando chegar à altura, havemos de voltar com redobrada energia”, revelou, na altura, o autarca de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, em declarações à Lusa.
Segundo Rodrigo Rodrigues, o impacto concreto das festas na economia da Terceira “é difícil de calcular”, mas a época era das que atraía mais visitantes à ilha, com retorno não só para o setor do turismo, como para toda a economia.
“Estamos a falar dos alojamentos todos completamente cheios, a preços bastante bons, estamos a falar dos restaurantes completamente cheios durante aquele mês, estamos a falar das próprias atividades turísticas, marítimo-turísticas, ‘rent-a-car’, estamos a falar no setor do turismo de um valor muito alto”, sublinhou, acrescentando que o próprio comércio tinha “um incremento nesta altura muito grande”.
Muitos dos emigrantes nos Estados Unidos da América e Canadá aproveitavam esta época do ano para se deslocar à ilha, prolongando a sua estadia para lá das festas, mas as Sanjoaninas eram também um atrativo para turistas nacionais, segundo Rodrigo Rodrigues.
“Mesmo os voos que vinham do continente e mesmo os voos e barcos que vinham das outras ilhas dos Açores traziam muita gente. Só da ilha de São Miguel tínhamos sempre três, quatro marchas, que traziam consigo 400, 500 pessoas. Eram 10 dias em que tínhamos um fluxo de gente anormal”, destacou.
As Sanjoaninas eram um dos pontos altos do turismo na ilha, mas as perspetivas dos empresários do setor do turismo para o resto do verão são igualmente negativas.
“Este é um verão praticamente perdido, que vai viver do mercado regional e, eventualmente, um pouco do mercado nacional, mais para o fim de julho e agosto. Os empresários estão extremamente preocupados e, neste momento, não têm grande luz ao fim do túnel, porque passando o verão temos outro inverno. As expectativas de que este setor volte à normalidade nunca serão antes de maio de 2021”, frisou Rodrigo Rodrigues.
A autarquia de Angra do Heroísmo decidiu criar apoios para famílias e empresas afetadas pela pandemia da covid-19, num montante superior a meio milhão de euros (valor semelhante ao orçamento das festas), mas as candidaturas dos empresários têm ficado aquém do esperado.
“Os empresários devem ainda, porque ainda estão a tempo, concorrer a todos os apoios que existem porque esta travessia no deserto vai ser longa e acho que nenhum apoio pode ser descurado”, alertou o presidente da associação empresarial.
Os Açores registaram 147 casos de infeção pelo novo coronavírus que provoca a covid-19, mas atualmente não têm casos ativos, sendo que 130 pessoas recuperaram, 16 morreram e uma regressou ao continente português, onde residia.
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