Segundo dados do portal da contratação pública Base consultados pela agência Lusa, a esmagadora maioria destes contratos — que têm sido alvo de polémica sobretudo após denúncias de falta de condições de atendimento de crianças com doenças oncológicas e que estão atualmente a ser investigados pelo Ministério Público – foram celebrados por ajuste direto, entre janeiro de 2014 e abril de 2018.
Globalmente, os 44 contratos celebrados entre o Centro Hospitalar de São João e as cinco empresas do universo da família de Manuel Fernando Santos Silva, todas sediadas em Vila Nova de Gaia, ascendem a cerca de 2,135 milhões de euros (821,3 mil euros relativos à Jofilhos, 517,3 mil euros relativos à Vírgula Métrica, 240,7 mil euros relativos à Espiralnor, 297,6 mil euros relativos à Rebigran e 257,9 mil euros relativos à Praiaco).
No que se refere aos contratos de aluguer de contentores, nomeadamente para instalação dos serviços de pediatria e neurocirurgia, entre abril de 2014 e abril de 2018 a Jofilhos, Vírgula Métrica, Espiralnor e Rebigran surgem como adjudicatárias de 23 dos 25 contratos celebrados pelo Centro Hospitalar de São João, 21 dos quais por ajuste direto.
Segundo os dados disponíveis no portal da contratação pública, estes 25 contratos de aluguer e manutenção de contentores custaram cerca de 1,340 milhões de euros ao Hospital de São João, dos quais 1,317 milhões de euros foram pagos às quatro empresas do agregado do construtor de Gaia (658 mil euros à Jofilhos, 395 mil euros à Vírgula Métrica, 132 mil euros à Rebigran e 132 mil euros à Espiralnor).
Para além dos 23 contratos ligados aos contentores, o Centro Hospitalar de São João celebrou, entre janeiro de 2014 e abril de 2018, mais 21 contratos com as empresas da família de Manuel Fernandes Santos Silva.
Para além das quatro empresas – Jofilhos, Vírgula Métrica, Espiralnor e Rebigran – já associadas aos contentores, mas que fizeram também outras obras contratadas pelo São João, é aqui que surge também a Praiaco, à qual o hospital contratou serviços como a substituição dos vãos e montagem de estores exteriores nas enfermarias do serviço de traumatologia, reparação do pavimento da unidade de autópsias e beneficiação do pavimento do arquivo clínico.
O Ministério Público disse na quinta-feira à agência Lusa estar a recolher elementos sobre os contratos de aluguer dos contentores onde funcionam alguns serviços do hospital portuense, “com vista a decidir se há procedimentos a desencadear no âmbito das respetivas competências”.
Esta recolha de elementos surge depois de a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, em entrevista à Lusa, ter pedido uma investigação a estes contratos, afirmando que “o nome das empresas [contratadas] muda sistematicamente”, mas “a pessoa é sempre a mesma”.
Ana Rita Cavaco questionou os contratos, lembrando que estão em causa “milhares de euros” gastos por mês.
“Aqueles contentores custam milhares de euros por mês ao Estado. Se calhar já tínhamos construído outro hospital de São João ao longo destes anos com aquele dinheiro. O mais engraçado é olhar para o nome das empresas a quem os contentores são contratualizados. A pessoa é sempre a mesma, mas o nome da empresa muda sistematicamente”, afirmou, lembrando que se trata de dinheiro de todos os contribuintes, pelo que a questão deve ser investigada.
Em resposta, o Hospital de São João garantiu que a legislação nos processos de renovação do aluguer de contentores está a ser cumprida.
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