A governante portuguesa intervinha numa iniciativa no âmbito da Cimeira da NATO, que decorre hoje e amanhã em Madrid, Espanha, denominada “Fórum Público da NATO”, momento em que foi questionada sobre as suas preocupações no flanco sul da Aliança.
Helena Carreiras começou por apontar os problemas relacionados com insegurança alimentar, “que está a afetar países africanos devido à disrupção das cadeias de fornecimento” bem como “uma variedade de outras ameaças relacionadas com condições económicas e sociais”.
A governante portuguesa referiu ainda a “instabilidade política” nestes países, considerando que abre “espaço para uma crescente influência da Rússia”, à qual se junta a presença de grupos paramilitares ou “campanhas hibridas”, que criam desafios que a NATO deve “estar preparada para enfrentar”.
“Há, claro, preocupações, sabemos que a NATO está a olhar para o leste pelo que se está a passar [na Ucrânia], mas não podemos esquecer que as ameaças surgem de áreas muito distintas. E não considero que a NATO esteja a esquecer isso porque temos este conceito 360 graus que está reforçado no novo conceito estratégico”, acrescentou.
Questionada sobre se o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, também tem esta abordagem 360 graus, Helena Carreiras disse acreditar que sim, uma vez que a Rússia “está presente” em áreas como África ou até o Atlântico.
“Devemos pensar definitivamente em reforçar as nossas parcerias. Não é que a NATO devia estar lá, a NATO é uma aliança regional, mas devia estar preocupada com a estabilidade nas nossas fronteiras porque a nossa segurança também depende da estabilidade dos nossos vizinhos”, vincou.
Para a ministra da Defesa portuguesa, tal significa que “deviam ser desenvolvidas estratégias para enfrentar estes desafios” e ajudar os vizinhos da Aliança, “sendo realistas” mas ajudar “através do reforço e fortalecimento” de parcerias.
“E eu penso que a parceira entre União Europeia e NATO é absolutamente crucial”, sublinhou.
A ministra portuguesa intervinha no fórum juntamente com o ministro da Defesa búlgaro, Dragomir Zakov, e a ministra da Defesa da Macedónia do Norte, Slavjanka Petrovska, que abordaram questões relacionadas com a NATO mas também a União Europeia.
A Macedónia do Norte está à espera de iniciar o processo de adesão à União Europeia desde 2005. A Grécia vetou o processou nos primeiros anos, até 2018, e depois foi a Bulgária a bloquear o caso desde 2020, no meio de longas disputas históricas e culturais.
No passado dia 24 de junho, o parlamento búlgaro votou a favor do levantamento do veto à abertura de negociações para a adesão da Macedónia do Norte à UE, e os governantes foram questionados sobre como conciliam estas diferenças sendo ambos membros da Aliança Atlântica.
“Quando falamos de defesa coletiva somos 100% aliados e temos excelente cooperação”, começou por responder o ministro búlgaro, que sublinhou o facto de “independentemente das diferenças que existem na NATO e das suas naturezas”, estas são sempre ultrapassadas.
“Penso que agora temos uma clara perspetiva de como ultrapassar as dificuldades também no seio da UE e estou muito otimista de que podemos fazê-lo nos próximos dias”, respondeu.
A ministra Slavjanka Petrovska concordou, dizendo que os dois países vêm a questão sob um ângulo mais amplo: “Estamos a lutar atualmente pela segurança comum, que é o desafio atual e a prioridade ‘número um’ para a NATO”, disse.
“Achamos que temos que nos manter unidos como membros da NATO mas também o processo de integração europeia dos países dos Balcãs Ocidentais especialmente deve continuar o mais depressa possível”, vincou.
Participou também neste painel o almirante Rob Bauer, presidente do Comité Militar da NATO, que considerou que as divergências no seio da Aliança são uma das suas maiores valias.
“O que estamos a defender em conjunto é o facto de sermos 30 estados soberanos e defendemos esse facto. E nesse sentido devemos acarinhar ter diferenças de opinião porque isso é que nos torna mais fortes. Assim que acordamos em algo, ninguém se consegue colocar entre nós”, sublinhou.
O almirante acrescentou ainda que Putin deverá estar “surpreendido” com esta unidade e com a “rápida resposta” ao conflito na Ucrânia.
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