“Estou com medo. Não dormi a noite toda, estou a ver televisão desde hoje de manhã e passam muitas ideias, pensamentos, pela minha cabeça”, disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) Joanna Magus, professora do ensino primário em Przewodow, pequena localidade situada a cerca de seis quilómetros da fronteira com a Ucrânia.
“Espero que seja um míssil perdido. Se não for, estamos indefesos. Não sabemos o que fazer a seguir”, acrescentou Joanna Magus, lembrando, tal como o Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco, que a explosão ocorreu ao início da tarde de terça-feira.
O Presidente polaco, Andrzej Duda, já disse hoje ser “altamente provável” que o míssil tenha sido disparado pela defesa da Ucrânia, numa altura em que a explosão levantou imediatamente preocupações de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) pudesse ser envolvida diretamente no conflito em curso no território ucraniano.
Duda adiantou que nada indica que tenha sido um “ataque intencional” e declarou que a Polónia não vai invocar o artigo 4.º da NATO que prevê consultas entre aliados sempre que esteja ameaçada a “integridade territorial, a independência política ou a segurança” de qualquer dos Estados-membros da Aliança Atlântica.
O chefe de Estado polaco disse à imprensa em Varsóvia ser “muito provável que o míssil tenha sido fabricado na [extinta] União Soviética” e que se trate de um modelo ‘S300’, segundo a agência espanhola EFE.
Em Przewodow, os habitantes indicaram que o projétil atingiu um secador de cereais, localizado próximo da escola primária da pequena aldeia, provocando o “pânico total”.
“Ouvi uma grande explosão, uma explosão terrível. Fui à janela e vi uma enorme nuvem de fumo escura e vi pessoas a correr. Pensei que talvez algo tivesse acontecido ao secador, que um dos aparelhos tivesse avariado e explodido”, acrescentou a professora, que se encontrava em casa.
O marido de Joanna Magus encontrava-se próximo do local da explosão, mas não sofreu qualquer ferimento.
“Estava apavorado. Disse que algo tinha explodido e que duas pessoas estavam mortas. Foi o pânico total”, acrescentou a professora primária ainda à AFP.
As duas vítimas da explosão são homens na casa dos 60 anos, ambos trabalhadores da empresa de secagem de cereais.
Ewa Byra, diretora da escola primária de Przewodow, referiu, por sua vez, que um dos mortos era casado com uma empregada de limpeza do estabelecimento escolar e que o outro era pai de um antigo aluno.
“Não esperávamos realmente este tipo de coisas, mesmo que aconteçam acidentes, sobretudo quando a guerra está a decorrer a apenas seis quilómetros da aldeia”, admitiu, adiantando que será prestado apoio psicológico aos alunos, assim como a todos os outros residentes que frequentam a escola.
Segundo testemunhou no terreno um jornalista da AFP, a polícia isolou o local da explosão.
As autoridades encontram-se junto à estrada que dá acesso à pequena localidade de cerca de 500 habitantes que, além da escola e das casas, tem apenas uma igreja e um cemitério.
Questionado pela AFP, o pároco Bogdan Wazny, que afirmou conhecer “bem” as duas vítimas mortais, sublinhou que a aldeia ficou vazia assim que se espalhou a notícia da explosão do míssil e que ninguém compareceu à missa na tarde de terça-feira, algo raro nesta aldeia situada numa região muito ligada à prática católica.
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