Em declarações aos jornalistas na sede nacional do PCP, Paulo Raimundo foi questionado se considera que a manifestação pelo direito à habitação que vai decorrer este sábado, e na qual vai participar, vai pressionar o Governo a adotar novas medidas.
Na resposta, Paulo Raimundo recordou que, em abril, já houve uma manifestação pelo direito à habitação, afirmando que “foi perante o anúncio dessa manifestação, e a sua dimensão, que forçou o Governo a tomar medidas”, ainda que “insuficientes e limitadas”.
“Portanto, isto é um sinal de esperança. Nós tivemos a semana passada, já depois de anunciada esta ação, um conjunto de propostas tardias, insuficientes, que fogem completamente ao alvo, (…) mas é um sinal da força que as pessoas têm e vão de ter de demonstrar essa força. É uma luta que não pode parar”, disse.
O dirigente do PCP considerou que a crise na habitação está a criar uma “situação de facto explosiva”, referindo que há hoje “milhares e milhares de pessoas a privarem-se das questões mais básicas da sua vida para aguentarem, no limite, o seu lar”.
“Estamos perante um drama de uma dimensão que, qualquer dia, salta mesmo a tampa, porque, para as pessoas chegarem a situações em que têm de entregar as suas casas, (…) isso significa que as pessoas tiveram de passar por privações profundas na sua vida, porque a última coisa que cada um deixa de pagar é a sua prestação, é a sua renda”, disse.
Questionado se teme uma convulsão social, Paulo Raimundo respondeu que não se está “perante uma convulsão social”, mas reforçou que a crise na habitação “é um problema de uma dimensão social brutal”.
“Ainda por cima tem a desvantagem, entre aspas, de ser um drama que cada um vive de forma isolada, dentro das suas paredes, o que quer dizer que a situação é muito mais grave do que aquela que aparenta”, disse.
Paulo Raimundo defendeu assim que “é bom que o Governo se preocupe mais com estas questões, do que andar a dar palmadinhas nas costas da Confederação Empresarial de Portugal (CIP)”, numa referência à proposta daquela confederação patronal sobre aumentos salariais.
Paulo Raimundo foi ainda questionado sobre a intenção de o Governo privatizar a TAP, tendo respondido que é “um crime político e económico para o país” e acrescentado que “não há nada que venha a estar num futuro caderno de encargos que minimize esta situação”.
Paulo Raimundo alertou que pode estar em causa um negócio em que “a TAP esteja a ser vendida com o próprio dinheiro da empresa”, referindo que se sabe onde é que os 3,2 mil milhões de euros que o Estado injetou na companhia aérea foram utilizados.
“Mil milhões foram para tapar o buraco que todas as companhias aéreas do mundo tiveram durante a pandemia, (…) os outro mil milhões para tapar o buraco que sido aberto nas empresas de manutenção do Brasil, (…) e há cerca de mil milhões que estão na capitalização da empresa”, disse.
Paulo Raimundo salientou que isso significa que, uma vez que há estudos que apontam “o valor da empresa à volta dos 1.200 milhões”, pode-se estar “perante uma situação em que a TAP esteja a ser vendida com o próprio dinheiro da empresa”, referindo que isso já aconteceu em 2011.
Já questionado se o PCP também quer mais esclarecimentos do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, sobre as notícias relativas à operação “Tempestade Perfeita”, Paulo Raimundo defendeu que o que é necessário é que o processo judicial decorra e “se apure o que há para apurar”.
“É isso que é fundamental neste momento. Tudo o que seja estar a alimentar ‘o diz que disse’, não contribui para o processo da Justiça”, disse.
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