“É improvável que a comunidade internacional responda adequadamente, independentemente da ajuda que já foi fornecida, se o país estiver paralisado”, referiu António Guterres, em conferência de imprensa, após uma visita de três dias ao país do Médio Oriente.
A classe política do Líbano, inalterada há décadas, é acusada por grande parte da população de corrupção, incompetência e inércia.
Apesar da urgência das reformas, os líderes persistem em criar conflitos políticos, paralisando as instituições, noticia a agência France-Presse.
O diplomata português reconheceu que “é necessário um apoio muito maior da comunidade internacional”, mas lembrou que “há trabalho a ser feito no Líbano”.
Segundo António Guterres, os doadores internacionais financiaram apenas 11% do plano de resposta no valor de 383 milhões de dólares [cerca 339 milhões de euros] da ONU para aquele país.
O responsável das Nações Unidas incentivou os líderes libaneses a tomarem medidas para restaurar a confiança das instituições, em particular através da retoma das negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“A retoma das negociações com o FMI, assim como a elaboração de um plano confiável de recuperação económica, são essenciais para se obter ajuda internacional, mas isso requer vontade política”, sustentou Guterres.
As negociações com o FMI começaram em 2020, mas acabaram por descarrilar devido a desentendimentos políticos.
O Governo, criado em setembro com o objetivo de tirar o país da situação atual, não se reúne desde outubro devido às tensões geradas pela investigação à explosão de 04 de agosto de 2020 no porto de Beirute, que causou duas centenas de mortos e destruiu bairros inteiros da capital, e que foi atribuída ao descuido dos governantes.
Em Beirute, Guterres apelou aos líderes políticos libaneses para se unirem, de forma a ultrapassar as múltiplas crises que afetam o país, nomeadamente a económica e a humanitária.
Mais de metade da população do Líbano, país com cerca de 6,8 milhões de habitantes, vive abaixo do limiar da pobreza, de acordo com as Nações Unidas.
Durante a sua deslocação, Guterres visitou a sede da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), em Naqoura, e pediu que as partes em conflito no sul do Líbano respeitem o compromisso de cessação das hostilidades imposto pelo Conselho de Segurança, ao longo de toda a Linha Azul, que separa o país de Israel e dos montes Golã.
Uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas de junho de 2000 determinou a demarcação da Linha Azul, que deveria permanecer não como uma “fronteira”, mas apenas como uma “linha de separação temporária”, para assegurar a paz.
“É muito importante que as partes entendam que qualquer conflito nesta situação pode transformar-se numa tragédia com consequências imprevisíveis”, disse Guterres, durante a visita à sede da UNIFIL, onde foi recebido pelo chefe da missão, Stefano Del Col.
“As partes devem estar de boa-fé e comprometer-se a manter a estabilidade na Linha Azul”, acrescentou o secretário-geral da ONU, referindo a necessidade de Israel e o movimento xiita libanês Hezbollah negociarem “alguns aspetos em que ainda subsistem dúvidas sobre a posição exata da Linha Azul”.
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