“Com base nas tendências atuais (…) as nossas projeções indicam que o número total de migrantes [venezuelanos] poderá chegar aos dez milhões em 2023. Se essas projeções se concretizarem, a migração em massa da Venezuela superaria as crises de refugiados anteriores, como a da Síria, na década de 2010, ou a do Afeganistão, na década de 1980″, refere o FMI.
Segundo o FMI, “desde o início da crise, houve uma grave deterioração das condições de vida dos 31 milhões de venezuelanos” que residiam no país, onde “a taxa de pobreza extrema passou de 10% em 2014 para 85% em 2018, e a população sofre com a escassez aguda de alimentos e medicamentos”.
“Esse cenário agrava-se pela forte queda da atividade económica, que se contraiu quase 65% entre 2013 e 2019. Os principais motivos foram o colapso da produção de petróleo, a deterioração das condições em outros setores e os apagões (elétricos) frequentes”, indica.
De acordo com o FMI, a inflação na Venezuela continua a ser “desenfreada, com aumentos mensais de preços que se aproximam dos 100% e rivalizam os de outros episódios históricos de hiperinflação”.
“Perante essa dura realidade económica e condições de vida precárias, os migrantes estão a deixar a Venezuela, estabelecendo-se nos países vizinhos. A Colômbia acolheu o maior número de imigrantes, seguida do Peru, Equador, Chile e Brasil”, refere o FMI, precisando que há ainda pequenos fluxos migratórios em alguns países das Caraíbas e da América Central.
Apesar de pressionar os gastos fiscais e os mercados de trabalho regionais, a situação poderá trazer benefícios económicos aos países da América Latina, sublinha organização.
O FMI prevê que um êxodo dessa magnitude tenha “repercussões” na região e “exerça pressão imediata sobre os gastos fiscais e os mercados de trabalho dos países de acolhimento (…) Com o tempo, porém, também contribuiriam para elevar o crescimento económico”, antevê.
“Em termos globais, o impacto sobre o déficit fiscal seria menor do que se depreenderia desse aumento nos gastos, uma vez que a arrecadação fiscal também aumentaria, acompanhando o ritmo de crescimento económico”, explica.
Segundo o FMI, “como muitos migrantes venezuelanos possuem níveis de escolaridade e de qualificação relativamente elevados, a expectativa é que, com o tempo, essa força de trabalho mais numerosa e mais qualificada resulte em maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real” dos países que os acolhem.
“Em comparação com outros episódios migratórios recentes, é possível também que fatores como o idioma e a cultura facilitem a integração dos migrantes venezuelanos nas economias regionais da América Latina. Além disso, a expansão da força de trabalho contribuiria para elevar o investimento”, explica.
No entanto, precisa que “a curto prazo, porém, o influxo de migrantes – dependendo da velocidade e da escala desses fluxos – pode exercer pressão sobre os mercados de trabalho para absorvê-los, deslocar alguns trabalhadores locais e aumentar a informalidade”.
“Tendo em conta a idade, as qualificações e o número de migrantes, bem como o fato de que a maioria aceitou empregos de baixa qualificação no setor informal, estima-se que entre 2017 e 2030 a migração da Venezuela eleve entre 0,1 e 0,3 por cento o crescimento do PIB nos países de acolhimento”.
Por outro lado, explica que “o impacto sobre o crescimento poderia ser maior e mais imediato se os migrantes pudessem encontrar empregos compatíveis com seu nível de escolaridade”.
Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), nos últimos cinco anos 4,6 milhões de venezuelanos abandonaram o país, dos quais quase 3,8 milhões se radicaram em países da América Latina e das Caraíbas.
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