Desde o início da manhã, têm sido inúmeros os grupos organizados de peregrinos que chegam à Cova da Iria, com a esmagadora maioria originários do Norte do país, mas também muitos autocarros vão deixando cidadãos estrangeiros junto aos muitos hotéis da cidade-santuário.
Mas, se esta afluência de peregrinos faz prever uma esplanada cheia no santuário na noite de domingo, para a procissão das velas, e na manhã de segunda-feira, para a missa internacional, tal não aumenta o otimismo dos comerciantes de artigos religiosos que, à pergunta de como está o negócio, têm uma resposta que parece concertada: “péssimo!”.
Júlia Almeida, com uma loja de artigos religiosos no lado Norte do santuário, não esconde o desalento: “há muita gente, mas poucas compras”.
“E mesmo os que compram, vão ao mais baratinho, coisas pequenas. Os terços ainda continuam a vender-se, mas os mais baratos”, diz a lojista.
A poucos metros, noutra loja que já funciona “há mais de 40 anos”, desde o tempo dos seus pais, Manuel Silva não mostra uma disposição diferente.
“Eu noto que, comparativamente a outros anos, até tem passado por aqui [praceta de lojas no lado Norte do santuário] menos gente, e quanto a vendas, então nem se fala”, lamenta, admitindo que “o que ainda se vai vendendo são os terços e as imagens”.
Já na rua Cónego Manuel Nunes Formigão, no complexo Lojas de Fátima, uma das funcionárias, pedindo o anonimato, diz que o ambiente “este ano está diferente, para pior”, no que a negócios diz respeito.
“Tem vindo muita gente, mas os portugueses não têm poder de compra. O que nos safa são os peregrinos da América Latina, da Espanha e da Coreia do Sul”, afirma, dando nota que os sul-coreanos, “mais que artigos religiosos, compram artigos regionais portugueses” e, entre estes, o destaque vai para os galos de Barcelos.
Quanto aos portugueses, “quando compram, vão para artigos pequeninos, como terços, medalhas ou pagelas com orações”.
A mesma opinião manifesta Palmira Teixeira, da loja A Azinheira, na avenida D. José Alves Correia da Silva, para quem, “mesmo com hotéis lotados, as vendas de artigos religiosas estão péssimas”.
“Há menos dinheiro e as pessoas vão ao essencial”, diz.
E o essencial, para muitos peregrinos, é visitar alguns dos locais emblemáticos do Santuário, como as basílicas da Santíssima Trindade e de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde estão sepultados os pastorinhos Jacinta, Francisco e Lúcia, a Capelinha das Aparições e o Convivium de Santo Agostinho, onde está patente a exposição Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória – o Rosário como caminho para a Paz.
Nesta exposição, que hoje já recebeu centenas de visitantes, é possível ver diversos terços oferecidos pelos Papas que já visitaram o santuário – Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco -, bem como exemplares usados pelos pastorinhos na segunda década do século XX.
Em destaque, a peça “Suspensão”, de Joana Vasconcelos. Trata-se de um terço gigante, que esteve suspenso em frente à entrada da basílica da Santíssima Trindade durante o ano do centenário das aparições, 2017.
Outra peça que desperta a curiosidade é a escultura hiper-realista de Clara Menéres “Jaz morto e arrefece o menino de sua mãe”, que transporta os visitantes para os tempos da chamada Guerra Colonial.
Também o percurso da Via Sacra no Caminho dos Pastorinhos, que tem início na Rotunda Sul e termina no Calvário Húngaro, está a registar um grande afluxo de peregrinos.
A peregrinação de 12 e 13 de maio ao Santuário de Fátima, a primeira aniversária do ano, é presidida pelo cardeal espanhol Juan José Omella, arcebispo de Barcelona.
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