Centenas de milhares de palestinianos foram expulsos do norte do enclave palestiniano após as forças israelitas terem lançado a sua primeira ofensiva na região, pouco depois do ataque do movimento islamita Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro.
Nos meses de combates que se seguiram, vastas zonas do norte foram arrasadas, incluindo grande parte da cidade de Gaza. Após meses de restrições israelitas à ajuda ao norte, as cerca de 300.000 pessoas que lá permaneceram estão à beira da fome, segundo a ONU.
Mesmo assim, muitos palestinianos querem regressar, dizendo que estão fartos das condições de vida de deslocados em que se encontram. Durante meses, as famílias foram amontoadas em campos de tendas, escolas transformadas em abrigos e casas de familiares em todo o sul.
Alguns também receiam permanecer em Rafah, a cidade mais a sul de Gaza, perante os repetidos anúncios de Israel de que fará uma incursão nesta cidade, onde se encontram mais de um milhão de palestinianos, metade da população do enclave.
Israel, que reduziu o número de tropas em toda a Faixa de Gaza, tem rejeitado repetidamente os apelos para que os palestinianos regressem ao norte, afirmando que continuam a operar nessa zona militantes do Hamas.
As forças armadas afirmam ter diminuído o controlo dos militantes sobre o norte, mas continuam a efetuar ataques aéreos e incursões contra o que dizem ser militantes em reorganização. No mês passado, as tropas israelitas invadiram o principal hospital de Gaza, o al-Shifa, durante duas semanas de combates que deixaram as instalações em ruínas.
O porta-voz militar israelita Avichay Adraee escreveu na rede social X que os palestinianos devem permanecer no sul de Gaza porque o norte é uma “zona de combate perigosa”.
No domingo, milhares de palestinianos tentaram subir a estrada costeira de Gaza de volta para o norte, a maioria a pé e alguns em carroças puxadas por burros.
Várias testemunhas disseram que as tropas israelitas abriram fogo quando a multidão se aproximou dos postos de controlo em Wadi Gaza, a linha que os militares traçaram para separar o norte de Gaza do resto do território. Cinco pessoas morreram e 54 ficaram feridas, segundo as autoridades do Hospital Awda, no centro de Gaza, para onde foram levadas as vítimas.
O exército israelita não fez comentários imediatos, não sendo claro o que desencadeou o tiroteio.
O regresso da população ao norte de Gaza tem sido um dos principais pontos de discórdia entre Israel e o Hamas nas negociações em curso para um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos reféns feitos pelo movimento islamita, no ataque de 7 de outubro.
Israel quer tentar atrasar o regresso para evitar que os militantes se reagrupem no norte, enquanto o Hamas diz que quer um fluxo livre de retornados.
A guerra tem tido um impacto sem precedentes na população civil de Gaza, com a maior parte dos 2,3 milhões de habitantes do território deslocados pelos combates.
Seis meses de combates em Gaza conduziram o pequeno território palestiniano a uma crise humanitária, deixando mais de um milhão de pessoas à beira da fome.
No norte do enclave, a ajuda tem tido dificuldade em chegar devido aos combates.
Israel abriu no final da semana passada uma nova passagem para os camiões de ajuda humanitária ao norte, numa altura em que se intensifica a distribuição de ajuda ao enclave sitiado. No entanto, as Nações Unidas afirmam que o aumento da ajuda não está a ser sentido em Gaza devido às persistentes dificuldades de distribuição.
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