No final da primeira semana de campanha destas eleições europeias, começaram a ser divulgadas sondagens favoráveis ao PS, mas o secretário-geral socialista, António Costa, com muitos anos de vida política acumulada, procurou imediatamente travar euforias nas suas hostes.
"Não se ganham eleições nas sondagens. As eleições ganham-se nas urnas com os votos que entram nas urnas. Só contado voto a voto é que se sabe quem ganha e qual a dimensão dessa vitória", vincou António Costa em tom de advertência num almoço comício em Viana do Castelo no sábado passado.
O aviso de António Costa tem uma causa direta: Para domingo, preveem-se temperaturas elevadas em todo o território continental e o PS teme ser um dos partidos mais penalizados por uma eventual desmobilização de parte dos seus potenciais eleitores.
Ao longo dos últimos dias, quer o secretário-geral do PS, quer o cabeça de lista socialista às europeias, Pedro Marques, têm tentado contrariar uma lógica que acreditam estar presente na cabeça de muitos cidadãos, segundo a qual o que realmente interessa joga-se nas legislativas de outubro e não nestas europeias.
Pedro Marques, em sucessivos discursos, procurou traçar linhas de demarcação face ao PSD e CDS, argumentando que nas eleições de domingo estão em causa dois modelos distintos, quer na Europa, quer em Portugal.
De acordo com o cabeça de lista do PS, de um lado está o modelo dos cortes e da austeridade, que associou aos protagonistas do anterior Governo de Passos Coelho e a quem nas instituições europeias quis aplicar sanções a Portugal; do outro lado está e a via "alternativa de devolução de rendimentos, mas com contas certas", que disse ser protagonizada pelo atual executivo.
Mas, já nesta reta final da campanha, no distrito de Setúbal, onde os parceiros da esquerda governamental têm forte presença eleitoral -, António Costa e Pedro Marques inauguraram as críticas ao PCP e ao Bloco de Esquerda, considerando que continuam numa lógica de "voto de protesto" no plano europeu e defendem "ideias simples mas perigosas", como a saída de Portugal do euro.
Para reforçar a campanha do PS, Pedro Marques tem contado ao seu lado com a presença frequente do secretário-geral socialista.
António Costa, sempre que não tem agenda como primeiro-ministro, aparece, fazendo intervenções em que usa sempre três argumentos centrais: Diz que é preciso votar no PS para defender a Europa das correntes extremistas; para defender Portugal em complexas negociações com outros Estados-membros da União Europeia, desde fundos comunitários, até à reforma da zona euro; e para defender "a manutenção do rumo" da atual governação, sugerindo que o resultado de domingo terá consequências no resultado das eleições legislativas de outubro.
De António Costa, de resto, têm partido os ataques mais fortes contra o PSD, sobretudo contra o cabeça de lista Paulo Rangel, já que o presidente dos sociais-democratas, Rui Rio, apenas tem sido visado pontualmente por Pedro Marques.
No plano político, a maior dificuldade criada no PS foi provocada pela cabeça de lista do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, que acusou os socialistas portugueses de duplicidade estratégica, alegando que no país privilegiam a esquerda, mas aproximam-se dos liberais nas instituições europeias.
António Costa defendeu-se, argumentando que "é preciso uma convergência de democratas e progressistas" favoráveis ao projeto europeu contra a extrema-direita nacionalista - uma perspetiva que foi também preconizada por Pedro Marques e pela sua secretária-geral Adjunta, Ana Catarina Mendes.
No entanto, num comício em Aveiro, na terça-feira, Pedro Nuno Santos, apontado como potencial candidato à sucessão de António Costa, veio defender um conceito de "respeito pelas democracias nacionais" em contraponto ao federalismo.
Pedro Nuno Santos falou ainda na necessidade de uma clara separação de águas entre socialistas e liberais também no plano europeu, o que, de imediato, mereceu a concordância da cabeças de lista do Bloco de Esquerda, que pediu ao líder do PS e primeiro-ministro esclarecimentos sobre esta matéria. Por diferentes motivos, o mesmo exigiu a António Costa o "número um" europeu social-democrata, Paulo Rangel.
No que respeita à mobilização de militantes e simpatizantes socialistas nesta campanha, tudo indica que se manterá a tendência descendente que se iniciou já nas eleições europeias de 2009 e prosseguiu nas de 2014.
Tirando o almoço comício de abertura de campanha em Mangualde (com a presença do candidato socialista à presidência da Comissão Europeia, o holandês Frans Timmermans), os comício do Funchal (que funcionou como uma espécie de primeiro volta para as regionais de setembro) e de Setúbal, ou ações em autarquias dominadas pelo PS, como em Almeirim, Coimbra e Fafe, as iniciativas do PS ficaram globalmente longe dos níveis habituais em legislativas ou em autárquicas.
O próprio secretário-geral do PS, que tem inscritas várias funções de diretor de campanha no seu currículo político, num discurso que fez perante um auditório preenchido a metade em Guimarães, reconheceu esses problemas de mobilização em eleições europeias.
"Sabemos bem que as campanhas europeias são sempre difíceis, porque tradicionalmente têm elevados níveis de abstenção. São sobretudo difíceis para os partidos que estão no Governo - só por vezes, até agora, ganharam as eleições europeias. Pois, no dia 26, pela terceira vez, o partido que está no Governo vai ganhar umas eleições europeias", declarou.
Entre os principais dirigentes do PS, reconhece-se que o tradicional modelo de arruadas, com bombos atrás dos candidatos, são cada vez menos populares sobretudo entre os cidadãos de zonas urbanas, que reagem negativamente à poluição sonora e aos bloqueios à sua circulação gerados pelo pessoal dos partidos.
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