“Não me intimidam, nem aqui em Portugal, nem em Angola, os corruptos que querem envenenar as relações e envenenam efetivamente, fazendo Portugal funcionar como lavandaria daqueles que roubam Angola”, afirmou Ana Gomes, em declarações à agência Lusa, à margem do 22.º Congresso do PS, que hoje prossegue na Batalha, distrito de Leiria.
A eurodeputada disse estar “numa cruzada em Portugal, na Europa, em solidariedade com Angola e com todos aqueles que no mundo inteiro se batem contra a corrupção e contra as violações dos direitos humanos que resultam da corrupção”.
“Tenho valorosos amigos angolanos que estão na primeira linha desse combate e é com eles que eu sou solidária, como fui solidária com aqueles que, no tempo da guerra colonial e da opressão colonial, se batiam pelo fim da colonização e pela democracia em Portugal”, adiantou.
Ana Gomes acrescentou que o que a move “é a genuína solidariedade com aqueles que em Angola se batem por democracia, por o fim da cleptocracia, por aplicação dos prodigiosos recursos de Angola em benefício do povo angolano e não para encher os bolsos e os ‘offshores’ daqueles que se valem do poder para roubar Angola”.
“O que eu disse – e mantenho – não é que tivesse havido alguém, responsável político, do Governo ou até o próprio Presidente da República, que tivessem ido pessoalmente pressionar os juízes da [Tribunal] Relação para adotarem a decisão que adotaram, (…) o que eu digo é que a pressão política, a influência política foi feita às escancaras, por muitos elementos responsáveis políticos portugueses, nos media portugueses e pelo próprio Estado angolano”, frisou.
Para a eurodeputada, o Presidente angolano, João Lourenço, tornou “a relação com Portugal refém da solução que queria para o caso, que foi aquela que foi viabilizada pelo Tribunal da Relação”.
Em 10 de maio, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu que o processo do ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, arguido na Operação Fizz, deve ser enviado para Angola.
A Operação Fizz assenta na acusação de que Manuel Vicente corrompeu o ex-procurador Orlando Figueira, com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um dos quais envolvia a empresa Portmill, relacionado com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril, em 2008.
No editorial de hoje, o jornal detido pelo Estado angolano reage às recentes declarações de Ana Gomes, que afirmou que a transferência para Luanda do processo do ex-vice-presidente de Angola - que era exigida pelas autoridades angolanas e que o Governo português classificava como "o único irritante" nas relações bilaterais - "foi fabricada".
No texto é ainda referido que, "de algum tempo a esta parte, uma das vozes desestabilizadoras, do tipo ervas daninhas" das relações entre Angola e Portugal, "com recurso ao que para muitos parecem tentativas frustradas de ajuste de contas políticas, tem sido indubitavelmente a eurodeputada socialista, Ana Gomes".
O jornal fala mesmo numa "cruzada" de Ana Gomes "contra o Estado angolano e contra as autoridades angolanas", nas posições assumidas.
A socialista considerou ainda “extraordinário” que o editorial omita que Manuel Vicente “tinha também a nacionalidade adquirida portuguesa e hoje é deputado".
"Mas, não poderia ter sido vice-presidente de Angola se tivesse uma nacionalidade adquirida e pelos vistos tinha”, afirmou.
“Como e quando é preciso apurar. Essa pergunta eu deixo aos responsáveis portugueses e vamos ter que saber isso, porque obviamente esta é uma informação que não devia ter sido sonegada nem ao povo português, nem ao povo angolano”, argumentou.
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