"Para mim, fazendo parte de uma minoria na América, os ursos foram sempre uma reflexão de como eu me sentia como um forasteiro, alguém que racialmente não sabia o seu lugar no mundo", explicou o criador, sobre a série animada que passa no Cartoon Network.
"Mas há aqui uma proposta mais alargada, porque todos somos assim, de certa forma. Toda a gente está à procura de uma forma de se encaixar e encontrar aceitação", afirmou. "Essa é a ideia maior que incentiva a empatia. As crianças veem os ursos e entendem que todos nos sentimos assim, mesmo que uns pareçam diferentes".
Um dos aspetos interessantes do filme é que introduz várias personagens baseadas em animais famosos da internet. Uma delas é a Vaca Dramática, interpretada por Filomena Cautela na versão portuguesa, sendo a base da personagem o vídeo de um cão-da-pradaria com olhar dramático que se tornou viral em 2007.
Outra personagem é baseada na gata que se tornou famosa por parecer estar sempre chateada, Grumpy Cat.
Chong sublinhou que fez a série para todos, mas que o poder da animação é especialmente importante para chegar às crianças. "É apelativa numa idade muito precoce, e é muito importante verem estas coisas básicas que queremos que saibam e sintam, de forma a que cresçam para serem seres humanos decentes".
A história segue os ursos Pardo, Polar e Panda, que no filme se metem em trabalhos com o Departamento de Vida Selvagem e são obrigados a escapar, correndo o risco de serem separados.
O tema da fuga e da separação foi pensado antes da crise que aconteceu na fronteira entre os Estados Unidos da América e o México, com milhares de crianças a serem separadas dos pais pelas autoridades, mas Chong explicou que o que aí sucedeu teve influência na história.
"Já tínhamos este enredo e quando isso começou a acontecer nas notícias foi um limiar em que nos questionámos se devíamos abraçá-lo ou afastar-nos, porque podia levar as pessoas a rejeitarem a história", disse o criador.
A equipa decidiu prosseguir, considerando que era um tema necessário. "Não estamos a tentar tomar posições políticas", advertiu Chong. "Para nós, é uma questão de direitos humanos, de certo e errado, de como tratamos as pessoas que são diferentes de nós. Isso já estava no ADN da série, por isso inclinámo-nos ainda mais e isso tornou-se um tema grande sobre o qual estávamos a refletir", continuou. "Foi essa a nossa mentalidade quando abordámos este tópico bastante pesado".
O filme, que se estreia no Cartoon Network esta sexta-feira, serve como conclusão da série animada. "Põe um ponto final simpático na série, ainda que essa não fosse a intenção original", frisou Chong.
No entanto, o franchise de "Nós, Os Ursos" continua a crescer, estando previsto um "spin-off" e a continuação da disponibilidade da série nas plataformas de "streaming".
Foi isso que permitiu aos ursos atingirem uma audiência muito mais alargada do que a que sintonizou a série inicialmente.
"Quando estreámos em 2015, fomos apanhados no fogo cruzado da televisão tradicional e das plataformas de "streaming". Sabemos quem ganhou essa luta", afirmou Daniel Chong.
Na altura, "a série estava com dificuldade em encontrar uma audiência, porque havia uma grande migração para o "streaming"", mas com o passar do tempo isso mudou, refere.
"Agora que o pó assentou, muitas pessoas encontraram-nos através do "streaming". O canal foi excelente e manteve-se do nosso lado e isso trouxe-nos a este ponto em que a série é muito mais conhecida que antes", afirmou.
"Nós, Os Ursos: O Filme" estreia às 20:15 de sexta-feira, 13 de novembro, no Cartoon Network Portugal.
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