António Esteves, conhecido como o Toninho da Ribeira, tem neste momento “um estendal” de mais de 914 alheiras, salpicões, linguiças, os chouriços azedos e do ar a secar, ou os presuntos, para a feira de São Brás, em João da Corveira, onde se lembra de ir desde pequeno.
Primeiro com os pais, que ali vendiam os seus produtos derivados do porco e agrícolas, e agora, aos 51 anos, com o fumeiro que faz com a mulher e a filha.
O último porco que matou e desfez para fazer o fumeiro pesava 323 quilos e foi criado por si, durante um ano inteiro.
“E alimentado à base do que a terra dá, nos últimos dois meses com a castanha produzida aqui. E são um conjunto de fatores que fazem a diferença no resultado final”, afirmou o produtor e agricultor.
Porque a agricultura dá pouco rendimento, com o fumeiro esta família ganha um dinheiro extra.
“Vou vender na feira e, assim, ganho uns clientes para depois irem a casa saber de mim. É sempre bom o convívio, o conhecimento e divulgarmos o nosso produto”, afirmou, explicando que a receita do fumeiro foi transmitida pela sua mãe e sogra.
A feira desta aldeia perde-se na memória de quem aqui vive.
“Não temos um ano preciso, ainda hoje estive com uma senhora de 90 anos que se lembra dos avós conhecerem a feira de São Brás”, afirmou Fátima Machado, presidente da Junta de São João de Corveira.
Antigamente era pela rua que se espalhavam os produtos, em cima de palha ou toalhas. Atualmente, são cerca de 50 os produtores que se juntam numa tenda de grandes dimensões onde se vende o fumeiro, mas também outros produtos regionais, como o vinho, azeite, pão, compotas, licores.
“Começou na rua e começou com as ofertas que eram dadas ao santo padroeiro, São Brás. Fazia-se o leilão das ofertas e as pessoas começaram a aproveitar a oportunidade para fazer negócio”, contou Fátima Machado.
O certame nesta aldeia não tem a dimensão de outros do género que se realizam, por exemplo, em Montalegre, Boticas, Chaves ou Vinhais, mas representa, segundo a autarca, uma ajuda no orçamento familiar dos pequenos produtores locais.
E são, salientou, cada vez mais os visitantes a cada ano que passa.
Matilde Ribeiro, 54 anos e de Possacos, começou a fazer fumeiro para vender na altura da pandemia de covid-19 e, há dois anos, participou pela primeira vez na feira de São João de Corveira.
“Aprendi com as minhas avós e com a minha mãe”, referiu, explicando que esta atividade é um complemento.
A produtora disse que a qualidade do produto está no tempero, nas carnes e também na forma como se seca "ao calor do ar" da fogueira.
“Tudo tem o seu segredo e, para mim, o secar é muito importante para o paladar do fumeiro e para o brilho dele”, frisou.
Para além das alheiras, linguiça, salpicão, butelo, azedos, chouriça preta (de sangue), faz também doces económicos com doce de abóbora, o folar, a bola de azeite e rissóis de alheira em forma de coração. “Para mostrar o amor e carinho que eu tenho ao fazer os meus produtos”, concretizou.
Na sua opinião, participar na feira compensa. “Quanto mais não seja para a nossa realização pessoal, para a gente divulgar o que a gente gosta de fazer e eu gosto de fazer”, salientou Matilde Ribeiro.
Carminda dos Santos, 67 anos, é de Argemil, aprendeu a arte com a mãe e já há muitos anos que participa no certame, onde arranja clientes que, depois, lhe passam a comprar diretamente os produtos.
“Tenho muitos clientes que me telefonem depois e vão buscar a casa”, referiu.
O programa da feira inclui uma caminhada, BTT, uma montaria, chega de bois e uma corrida de cavalos, montaria, concurso de gado maronês.
A Feira de São Brás é organizada pela Junta de São João da Corveira, com o apoio da Câmara de Valpaços.
*Por Paula Lima, da agência Lusa
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