De acordo com o El País, Espanha dispõe-se a acolher o navio. "É nossa obrigação ajudar a evitar uma catástrofe humanitária e oferecer um porto seguro a estas pessoas, cumprindo deste forma as obrigações do Direito Internacional", referiu Pedro Sánchez, presidente do Governo espanhol,  numa nota emitida pela presidência.

Momentos antes de sair o comunicado, Ximo Puig, presidente da Generalitat Valenciana, assegurou que o Governo espanhol ofereceu à ONU Valência como "porto seguro",.

"O Governo disponibilizará o porto de Valência como porto seguro para esta operação humanitária que o Governo de Espanha vai iniciar com a ONU", referiu, assegurando que é uma boa notícia para Espanha e Valência.

Joan Ribó já tinha também assinalado a condição da cidade como "refúgio" e considerou "absolutamente desumano que se deixe um barco à deriva nesta situação". Por isso, referiu que a cidade iria "mover todos os dispositivos para que, caso não haja outra possibilidade, Valência seja o local de atraque" do navio.

O navio com 629 migrantes resgatados no Mediterrâneo por uma ONG tem permanecido durante o dia de hoje no mar devido ao impasse entre Itália e Malta, que lhe recusam entrada e se acusam mutuamente de violação da lei internacional.

No domingo à noite, numa mensagem colocada no Twitter, o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, confirmou que não vai deixar aportar o navio e acusou Itália de pôr em risco as vidas dos migrantes, entre os quais há 123 menores e sete grávidas, e de desrespeitar as regras internacionais.

“Malta está a cumprir plenamente as suas obrigações internacionais e não vai receber o navio nos seus portos. Continuaremos, quando possível, a fazer retiradas individuais e humanitárias de emergência”, escreveu Muscat.

Noutra mensagem, o primeiro-ministro maltês afirmou estar “preocupado” com as instruções dadas ao navio pelas autoridades italianas, que “vão manifestamente contra as regras internacionais e arriscam criar uma situação perigosa para todos os envolvidos”.

Itália recusou no domingo autorizar o navio Aquarius, da organização não-governamental (ONG) francesa SOS Mediterranée, a desembarcar num porto italiano os migrantes, resgatados do mar em várias operações durante o dia de sábado.

Por ordem das autoridades italianas, o navio mantém-se em alto mar, a 35 milhas de Itália e a 27 milhas de Malta, segundo a SOS Mediterranée.

Dentro do navio

“Não nos movemos desde a noite passada, as pessoas começam a questionar-se porque estamos parados”, escreveu hoje de manhã no Twitter a jornalista Anelise Borges, que está a bordo do navio. A jornalista referiu também que o espaço onde estão as mulheres "é insuportavelmente quente".

Sara Alonso, outra jornalista a bordo, relatou por telefone à agência EFE que “a situação é calma”, mas as pessoas “estão muito cansadas e começa a fazer muito calor na cobertura”.

“As pessoas já estão muito cansadas, estamos há dois dias no barco”, disse, explicando que os homens dormem na cobertura do navio e as mulheres e crianças no interior. “O espaço é muito limitado para tanta gente e mal nos podemos mexer”, relatou.

Um dos Médicos Sem Fronteiras a bordo do navio Aquarius também fez um retrato da situação. “Temos água e comida para todos, mas só para hoje, porque já não vai ser suficiente para amanhã” (terça-feira), disse o médico norte-americano, David Beversluis, entrevistado pela agência EFE, acrescentando que “isso é o mais importante” neste momento.

O ministro do Interior de Itália, Matteo Salvini, também líder do partido nacionalista xenófobo Liga, repetiu hoje de manhã, numa nova mensagem no Twitter, que não faz tenções de ceder: “Salvar vidas é um dever, transformar Itália num enorme campo de refugiados, não”.

Beversluis afirmou na entrevista que a situação dos migrantes “é estável”, mas advertiu que ela pode agravar-se, com o acumular de dias no mar e a falta de condições no navio, com capacidade para 500 pessoas.

A maioria dos migrantes apresenta sintomas de desidratação, cansaço e enjoo, situações a que o pessoal médico no navio pode dar assistência, mas, segundo o médico, “o confinamento e stress” criados pela permanência no mar podem agravar outras situações.

Citou como exemplo pessoas mais vulneráveis, como os 11 bebés e sete grávidas a bordo, assim como “15 pessoas com queimaduras provocadas pela mistura entre a água do mar e o gasóleo” durante o resgate.

Beversluis referiu também situações de pessoas com fraturas, que “teriam de ser operadas nos próximos dias”, o que “evidentemente não pode ser feito aqui”.