Jean P. era até junho o gerente de uma loja da cadeia de supermercados alemã em Barcelona, Espanha. Trabalhava para a empresa desde 2005 e parecia um homem empenhado. Chegava antes do início do turno, uma hora antes do suposto, para “preparar a loja antes da sua abertura ao público”, cita o jornal espanhol ‘País’.
Sem picar o ponto, Jean “aviava pedidos, mudava os preços e repunha paletes inteiras de artigos”. A descrição vem na carta de despedimento, agora conhecida. Despedimento, diz a cadeia de supermercados, por “incumprimentos laborais muito graves”.
Que incumprimentos foram esses? Jean violou a norma da Lidl que diz que “cada minuto que se trabalha é pago e cada minuto deve ser registado”. Ora, Jean não só trabalhava para lá do contratualizado, como não registava essas horas extra.
A cadeia de supermercados descobriu-o depois de uma investigação, que encontrou Jean, durante alguns dias de abril deste ano, a chegar ao local de trabalho às cinco da manhã e a passar “entre 49 e 87 minutos” na loja.
Ora, mas qual é o problema de chegar antes da hora? As normas de segurança da multinacional definem que ninguém pode trabalhar sozinho, algo que aconteceu algumas vezes. Para além disso, a empresa diz ter recebido “queixas” de empregados que Jean terá convidado para chegarem também mais cedo ao local de trabalho.
O agora ex-gerente do supermercado, cita o jornal espanhol, crê que o seu despedimento foi improcedente. Por isso, decidiu levar a cadeia alemã para os tribunais, com o objetivo de ser readmitido.
O homem alega que nunca obrigou empregados a acompanhá-lo na abertura do supermercado e que a empresa nunca lhe disse que não podia chegar mais cedo para preparar a loja para uma abertura eficaz.
O advogado de Jean, Juan Guerra, diz que se o homem rompeu com os procedimentos da empresa não foi em seu proveito, antes “em benefício da empresa”.
“Curiosamente, estão a sancioná-lo por algo que desde logo não é usual, por trabalhar demasiado e esforçar-se para que a loja funcione corretamente”, lamenta o advogado, citado pelo ‘El País’.
Jean diz que há hipocrisia da parte da empresa, já que a acusa de fazer pressão para conseguir números de vendas esperados pela direção. Acrescenta também que não era um comportamento habitual, antes fruto das circunstâncias, já que nos dias anteriores aos que a multinacional investigou, a loja terá passado por uma reestruturação, que “requeria tempo e dedicação”, diz o ex-gerente na denúncia aos tribunais. Para cumprir os objetivos de vendas, “às vezes há que trabalhar por cima do horário”, diz o homem.
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