“Os políticos de alto nível das duas partes serão responsáveis por qualquer escalada que conduza a um aumento das tensões e, potencialmente, da violência na região”, escreveu, em comunicado, um porta-voz do Serviço Europeu para a Ação Externa.
A mesma fonte considerou um “motivo de grande preocupação” as declarações do Presidente sérvio, que acusou o Kosovo de estar a preparar uma matança de sérvios no norte do país, e do primeiro-ministro kosovar, que admitiu a possibilidade de Belgrado iniciar uma guerra contra o Kosovo.
“Ambas as partes devem pôr imediatamente fim às hostilidades mútuas e às declarações perigosas e atuar com responsabilidade”, afirmou o porta-voz.
Bruxelas manifestou confiança de que o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, poderão abordar “estes temas difíceis” na reunião convocada pelo alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, para dia 18 de agosto em Bruxelas.
“Alcançar um acordo global juridicamente vinculativo sobre a plena normalização das relações […] requer um clima que contribua para restabelecer a confiança, a reconciliação e as boas relações, em que se respeitem e apliquem plenamente os acordos passados, e em que não haja lugar a ações e declarações que não sejam compatíveis com o interesse geral e os objetivos estratégicos da região”, escreveu o porta-voz.
Borrell convocou a reunião do dia 18 na sequência de um agravamento da tensão no final de julho, quando centenas de sérvios kosovares bloquearam as estradas no norte do Kosovo junto à fronteira em protesto contra as decisões do Governo kosovar sobre a aplicação de medidas para impedir o uso de documentos de identidade e matrículas da Sérvia no território do Kosovo.
Na quinta-feira, o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, acusou as autoridades kosovares de estarem a preparar as condições para matar cidadãos sérvios no norte do Kosovo.
Recentemente, o primeiro-ministro kosovar Albin Kurti sugeriu a possibilidade de a Sérvia, “estimulada pela Rússia”, iniciar “uma guerra” no Kosovo.
Na próxima quarta-feira, e na véspera do encontro de Bruxelas, o secretário-geral da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, recebe em separado os líderes de Belgrado e Pristina para abordar a atual situação e a função da missão da NATO no Kosovo (Kfor), que mantém cerca de 4.000 militares no terreno.
Desde 2011 que a Sérvia e o Kosovo promovem negociações para a normalização das relações, mediadas pela UE, mas sem resultados palpáveis até ao momento.
Os cerca de 120.000 sérvios ortodoxos do Kosovo — os números divergem consoante a origem, admitindo-se que possam chegar aos 200.000, com cerca de um terço concentrado no norte do território — não reconhecem a autoridade de Pristina e permanecem identificados com Belgrado, de quem dependem financeiramente.
Belgrado nunca reconheceu a secessão do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra sangrenta iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da Organização das Nações Unidas (ONU).
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos da América, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
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