“Orçamento a orçamento não tem pernas para andar. Tipo queijo limiano, não tenho esse perfil e não acho interesse nisso. Agora, um acordo alargado no parlamento que dê ao país a oportunidade de ter aquilo que precisa, acho que sim. Tanto faz eu estar em primeiro e ganhar, como ficar em segundo e não ganhar, ponho a questão do país à frente”, afirmou Rui Rio, em entrevista à TVI e TVI 24.
O líder do PSD frisou que este cenário deve ser válido quer haja um governo minoritário do PS ou do PSD e, questionado sobre as condições para se manter no cargo em caso de derrota, disse “não estar minimamente preocupado” com essa questão.
“Tenho eleições a 6 de outubro, faço até lá o melhor que sei e posso com as circunstâncias que tenho. Chego a 7, 8, 9 ou 10 de outubro e logo vejo o que faço, tanto me faz estar como não estar, só estou se me sentir útil ao país”, afirmou, frisando que ser líder da oposição é um cargo com “custos pessoais e profissionais”.
Dizendo que o objetivo é ter “o melhor resultado possível, que é ganhar as eleições”, Rio reiterou que só depois avaliará em “função do estado do PSD e do país” se será útil e “se haverá ou não benefício em ficar”.
“O benefício é conseguir prestar um serviço ao país. Consigo, pode-se justificar estar, não consigo e não estou aqui a fazer nada”, acrescentou, dizendo não estar “agarrado” ao cargo.
Numa entrevista mais curta que a de António Costa, na semana passada, e que incluiu perguntas de representantes selecionados da sociedade civil e também de quatro jornalistas da estação, Rio recusou ter afastado todos os críticos internos das listas de deputados.
“Entraram na lista pessoas que estiveram contra mim desde sempre, pessoas que estavam a favor e depois no ‘golpe de Estado’ de janeiro estiveram contra mim, e pessoas que estiveram sempre a meu favor e, infelizmente, não puderam entraram nas listas pelos equilíbrios que é necessário manter”, defendeu, considerando que a comunicação social dá muita atenção aos “dois ou três” críticos que “fazem muito barulho”.
O líder do PSD disse ficar contente com o regresso de António Capucho ao partido, anunciado esta semana, considerando que o apoio que o antigo autarca de Cascais deu a António Costa em 2015 “não pode anular uma vida inteira até 2013 de dedicação ao partido”.
Rio voltou a defender que o cenário macroeconómico traçado pelo PSD “é prudente” e admitiu que possa ser ajustado em caso de um menor crescimento económico.
“Os impostos não descem tanto, o investimento público não sobe tanto. Comigo não contam para o desequilíbrio das contas públicas”, assegurou, dizendo que todos os partidos terão de ajustar as suas promessas se houver uma crise.
“No PSD não temos lá nenhum bruxo, temos economistas e bons, mas não são bruxos”, ironizou.
Em resposta a representantes da sociedade civil, Rio enumerou algumas das medidas do programa eleitoral do PSD, como o alargamento do programa de listas de espera para cirurgias às consultas e exames, a redução das custas judiciais em função dos rendimentos, a redução do IRC de 21 para 17% ou a eliminação do adicional do IMI – que disse considerar ilegal.
Questionado pelo secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, se pretende rever o estatuto da carreira docente, o líder do PSD disse que objetivo é haver “uma negociação global” das carreiras que “dignifique” a profissão de professor, criticando que um juiz estagiário possa ganhar mais que um docente do ensino secundário no topo da carreira.
Sobre a contagem do tempo de serviço dos professores, Rio admitiu que “houve incapacidade” do PSD de contrariar a mensagem do Governo.
“Essa jogada tática do primeiro-ministro surtiu o efeito que queria. Só volvido este tempo, agora com a greve dos motoristas fica claro para muitos o que foi a questão dos professores”, afirmou, considerando que existiu um aproveitamento eleitoral em vésperas de europeias.
Rejeitando que haja uma crise exclusiva da direita, o líder do PSD alertou, contudo, contra quem possa “votar útil” no PS para impedir o PCP e o BE de influenciarem a governação.
“No limite, podem estar a reforçá-los quase aos níveis de ‘75”, referiu, aludindo à possibilidade de a esquerda somar dois terços no parlamento, o limiar das revisões constitucionais e de algumas leis de valor reforçado.
Rio voltou a defender uma redução “ligeira” do número de deputados e a possibilidade de o seu número poder variar, dentro de limites, consoante haja mais ou menos votos em branco, rejeitando que seja uma ideia populista.
“É mais genuíno a redução ser feita com a participação do eleitorado do que eu, administrativamente, dizer quantos são”, afirmou, considerando que tal medida poderia diminuir a abstenção como voto de protesto.
Em resposta ao escritor e editor Afonso Reis Cabral, que o responsabilizou por em 2013 ter acabado com a feira do livro do Porto, Rio disse ter acabado “com o negócio”, argumentando que houve uma feira organizada pela Câmara Municipal.
“Sejam corridas de automóveis, sejam exposições de livros, coisas de que discorde ou negócios que entenda não serem adequados para o erário público acabam”, afirmou.
(Notícia atualizada às 23:31)
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