Depois de um ano de 2023 recorde de calor, junho de 2024 foi o mês de junho mais quente já medido, tornando-se o 13.º mês consecutivo a estabelecer um recorde de temperatura média mais elevada do que meses equivalentes.
A temperatura média global dos últimos 12 meses é, portanto, a "mais elevada alguma vez registada (...), 1,64°C acima da média pré-industrial de 1850-1900", quando a desflorestação e a queima de carvão, gás ou petróleo ainda não tinham aquecido o clima da Terra, sublinhou o Copernicus no início de julho.
E se tinha sido referido que o dia 21 de julho foi o mais quente no mundo desde que os registos começaram em 1940, com uma temperatura média global à superfície da Terra de 17,09 graus Celsius, a verdade é que no dia seguinte, segunda-feira, o recorde foi logo ultrapassado: a temperatura média global do ar na superfície subiu para 17,15 graus.
Segundo o Copernicus, estes valores surgem numa altura em que as ondas de calor atingem partes dos Estados Unidos e da Europa — e podem voltar a ser ultrapassados por estes dias, antes de as temperaturas baixarem, embora possa haver flutuações nas próximas semanas.
O dia de hoje em Portugal é prova da possibilidade de mais um recorde: segundo o IPMA, treze distritos de Portugal continental estiveram sob aviso laranja devido ao tempo quente, num dia em que há mais de 40 concelhos em perigo máximo de incêndio rural.
A temperatura máxima mais elevada prevista para terá rondado os 42 graus em Beja, seguida de Évora e Castelo Branco com 41 graus e Portalegre e Santarém com 40.
E o calor continua. Para amanhã, as previsões apontam quatro distritos em aviso laranja — Bragança, Guarda, Castelo Branco e Faro —, com as temperaturas a rondarem chegarem aos 40 graus. Na sexta-feira há sinal de tréguas e os avisos apenas chegam ao amarelo, mas os termómetros vão continuar com registos elevados.
A culpa é do El Niño?
O fenómeno climático El Niño costuma ser apontado como culpado pelas altas temperaturas, mas neste momento este está numa fase neutra.
Segundo os cientistas, este facto aponta para uma influência maior do que nunca das alterações climáticas, impulsionadas pela queima de combustíveis fósseis, no aumento das temperaturas globais.
"É realmente alarmante que não haja um ano de El Niño e estejamos a assistir a isto", afirmou Joyce Kimutai, cientista climática do Imperial College de Londres e do Departamento Meteorológico do Quénia citado pela Reuters. "Vimos o sinal voltar a ser neutro e quase La Niña, na verdade".
Assim, o fenómeno oposto, La Niña, conduziria a um arrefecimento global substancial, mascarando parte do aquecimento provocado pelas alterações climáticas. "Nesse caso, seria de esperar que as temperaturas descessem", afirmou. "Se isso não estiver a acontecer, significa que há algo de errado a acontecer no nosso planeta".
No que diz respeito à saúde, como combater o calor?
A Direção-Geral de Saúde (DGS) recomenda, entre outras medidas de proteção, que as pessoas se mantenham em ambientes frescos, pelo menos duas a três por dia, que evitem a exposição direta ao sol, principalmente entre as 11:00 e as 17:00, e que usem protetor solar com fator superior a 30, renovando a sua aplicação de duas em duas horas.
A DGS aconselha ainda a ingestão de água ou de sumos de fruta natural e pede que se evite o consumo de bebidas alcoólicas.
Recomenda confecionar refeições frias e leves, comendo mais vezes ao dia, e utilizar roupa larga, que cubra a maior parte do seu corpo, e chapéu de abas largas e óculos de sol.
Solicitando às pessoas que se mantenham informadas “relativamente às condições climáticas para poder adotar os cuidados necessários”, a autoridade de saúde recomenda também a quem tiver de trabalhar no exterior que o faça acompanhado, “porque em situações de calor extremo poderá ficar confuso ou perder a consciência”.
Também é aconselhado que em casa se corram as persianas ou portadas, no período de maior calor, e ao entardecer se deixe o ar circular.
Quais as consequências do calor?
Embora o calor seja bem-vindo em tempo de férias, a verdade é que os efeitos também podem arruinar o tempo de descanso.
Afinal, "a exposição a períodos de calor intenso, particularmente durante vários dias consecutivos – ondas de calor – constitui uma agressão para o organismo, podendo obrigar a cuidados médicos de emergência", alerta a DGS.
Assim, "situações extremas de exposição ao calor intenso podem provocar complicações graves para a saúde, por vezes, irreversíveis". Entre a lista estão casos de desidratação grave, cãibras, agravamento de doenças crónicas, esgotamento devido ao calor, insolação e até morte.
*Com agências
Comentários