“A política da ANA é cavalgar a onda de Portugal estar na moda, mas achamos que é um pouco matar as galinhas dos ovos de ouro, estamos pouco a pouco a deixar de ser competitivos e se calhar vamos perder oportunidades em comparação com outros mercados”, afirmou o diretor da easyJet em Portugal, José Lopes.
Falando aos jornalistas à margem da feira de aviação Farnborough Airshow, no Reino Unido, o responsável ressalvou que, apesar da subida das taxas se dever a mais passageiros, “o crescimento do tráfego em Portugal está a ser criado exclusivamente pelas companhias de aviação”.
Em causa estão está o ajustamento tarifário para os meses de novembro e dezembro de 2018 nos aeroportos de Lisboa e Porto, apresentado este mês pela ANA.
Numa nota publicada no seu ‘site’, a gestora aeroportuária informa que, “tendo em consideração o desvio relativo à estimativa de tráfego inicial, por via de um crescimento mais acentuado do número de passageiros do que o previsto, a ANA irá proceder a um ajustamento tarifário nos aeroportos de Lisboa e Porto, de 1,63% e 1,01%, respetivamente”, nestes meses, estando em análise o ajustamento a ser feito em 2019.
“Sempre dissemos que [as taxas] são negativas para o crescimento do tráfego porque faz com que Portugal seja menos competitivo”, vincou José Lopes.
O diretor da companhia no país exemplificou que, “em comparação com Espanha, Espanha está sempre a ganhar”.
“Se depois nós não temos outros fatores como as taxas aeroportuárias ou os custos de ‘handling’ [serviços de apoio] a compensar, Portugal fica sempre pior na análise de abertura de uma rota nova”, exemplificou.
Aludindo aos resultados do trimestre terminado em junho em Portugal, José Lopes escusou-se a avançar números, mas realçou a “reação muito forte da parte da procura” para rotas portuguesas neste período, o que possibilitou “crescer em passageiros e em receita” em “números muito bons”.
Questionado sobre apostas nos aeroportos portugueses, o responsável falou num “crescimento de forma transversal” em todos à exceção do da capital portuguesa.
“Lisboa vai ficando um pouco para trás e este verão, que está a decorrer, o nosso crescimento será zero por falta de capacidade”, observou José Lopes, referindo que a criação de um aeroporto complementar no Montijo “é mais lá para frente” e até lá é necessário “encontrar soluções”.
Por isso, “esperamos que em Lisboa se possa avançar rapidamente com soluções para, pelo menos daqui a dois anos - que não acreditamos que antes seja possível -, se possa crescer na Portela”, acrescentou.
A seu ver, podem estar em causa medidas como o fecho da pista transversal (cujo grupo de trabalho criado pelo Ministério das Infraestruturas não reúne desde dezembro) e a extensão do horário no aeroporto Humberto Delgado, que poderiam ser “implementadas o mais rapidamente possível” se existisse “bom senso” das autoridades como o Governo e a Câmara de Lisboa.
Da parte da ANA, o responsável apontou investimentos como “mais ‘stands’ para crescimento de aviões para que todas as companhias de aviação possam crescer no terminal, com melhor qualidade, a extensão das taxiway [pista do aeródromo] e mais saídas rápidas para os aviões mais lentos não ocuparem tanto tempo de pista”.
“Acho que na indústria estamos todos de acordo, aquilo que falta é alguém tomar as rédeas e decidir. É tudo muito lento e custa um pouco ver que as decisões afetam o mercado”, adiantou.
A britânica easyJet opera para mais de 154 aeroportos em 33 países. Em Portugal, serve os aeroportos de Faro, Lisboa e Porto e o do Funchal, na Madeira.
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