Nove anos após o início na guerra no Iémen, a ONU estima que 21,6 milhões de pessoas – o equivalente a dois terços da população do país, mas abaixo dos 23,4 milhões em 2022 – precisarão de ajuda humanitária e proteção em 2023.
O alerta da agência das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR) surge em antecipação da conferência de doadores dedicada ao Iémen, que decorre hoje em Genebra, na Suíça.
O ACNUR sublinhou as “graves e crescentes necessidades” da população do Iémen e apontou um défice de financiamento de 295 milhões de dólares.
A assistência humanitária “continua gravemente subfinanciada”, alertou a organização, adiantando que recebeu apenas 8% dos 320 milhões de dólares necessários para o seu trabalho no Iémen em 2023.
“O Iémen continua a ser uma das piores crises humanitárias do mundo, com 4,5 milhões de pessoas deslocadas internamente e mais de dois terços da população a viver abaixo do limiar da pobreza”, refere o ACNUR, assinalando que o país abriga também cerca de 100.000 refugiados e requerentes de asilo de outros países devastados por guerras.
“Não podemos esquecer a situação das pessoas desesperadamente necessitadas no Iémen. A magnitude desta crise tocou todas as famílias em todo o país”, disse Maya Ameratunga, representante do ACNUR no Iémen.
De acordo com as Nações Unidas, cerca de 93% das famílias iemenitas deslocadas têm pelo menos um membro com uma vulnerabilidade, quer sejam ferimentos físicos, sofrimento psicológico, trabalho infantil e mendicidade de crianças ou idosos abandonados.
“Demasiados perderam as suas casas, os seus entes queridos e os seus meios de subsistência. Falta-lhes uma rede de segurança social ou acesso a serviços essenciais, o que os torna mais vulneráveis a todo o tipo de ameaças e riscos, resultando em sofrimento psicológico grave”, sublinhou Maya Ameratunga.
Para os responsáveis do ACNUR, os iemenitas “não podem ser abandonados” e a “magnitude e a escala das necessidades destas pessoas merecem a atenção e o apoio do mundo”.
Por isso, apelam à comunidade internacional “para que se comprometa e esteja ao lado do povo do Iémen”, adiantando que, com maior apoio, os trabalhadores humanitários seriam capazes de alcançar famílias mais vulneráveis com assistência e serviços, apoio jurídico e psicossocial ou programas de proteção de crianças e outros membros vulneráveis da comunidade.
O ACNUR lembra ainda que a trégua de seis meses no conflito iniciada em abril de 2022 permitiu uma redução das vítimas civis e uma quebra de 76% de novos deslocados internos.
“A atual ausência de uma trégua oficial e a frágil situação política e de segurança estão a deixar a vida das pessoas num limbo. A incerteza — não existe um acordo de paz formal, mas o conflito não recomeçou — está a causar estragos na economia e em todos os aspetos da vida”, aponta o ACNUR.
O Iémen vive desde 2014 mergulhado num conflito entre os rebeldes xiitas Huthis, próximos do Irão, e as forças do Governo, apoiadas por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e que inclui os Emirados Árabes Unidos.
Os Huthis controlam a capital Sanaa e grandes extensões de território no norte e oeste do país.
Atualmente, o Governo iemenita e os Huthis estão a negociar um prolongamento do fim das hostilidades, que expirou em outubro passado.
De acordo com a ONU, a guerra no Iémen já causou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados.
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