Boris Johnson está a ser criticado por vários empresários britânicos e membros do Partido Conservador depois de um discurso que está a ser classificado como embaraçoso, pouco sério e incoerente diante da Confederation of British Industry [Confederação da Indústria Britânica] em que passou largos minutos a elogiar o Peppa Pig World, um parque temático dedicado ao famoso desenho animado Peppa Pig, comparou-se a Moisés, o profeta, e ainda imitou o som de um carro a acelerar.
Segundo o The Guardian, durante o longo discurso, o primeiro-ministro britânico passou 20 segundos a repetir a expressão "forgive me" [desculpem-me] enquanto folheava as várias folhas que levou para o púlpito de onde discursou, aparentemente perdido.
O discurso era aguardado e as expectativas estavam altas, uma vez que se esperava que Boris Johnson anunciasse políticas para o período pós-pandemia, com os empresários a aguardar novas diretrizes para o futuro da economia. No entanto, politicamente, tudo o que ficou foi uma mudança dos regulamentos de construção para garantir que todas as novas casas e edifícios em Inglaterra tenham pontos de carregamento de veículos elétricos instalados a partir do próximo ano.
Grande parte do discurso foi gasto numa analogia baseada numa ida recente ao Peppa Pig World.
“Ontem fui, como todos devemos, ao Peppa Pig World. Quem já esteve no Peppa Pig World levante a mão!", solicitou à audiência. "Eu amei. O Peppa Pig World é o meu tipo de lugar. Tem ruas muito seguras, disciplina nas escolas, grande ênfase em novos sistemas de transporte público. Mesmo que eles sejam um pouco estereotipados sobre Daddy Pig".
Depois desta introdução, e de afirmar que “o verdadeiro motor do crescimento não é o governo”, mas o setor privado", Johnson explicou que a "verdadeira lição" que aprendeu com esta visita foi que a popularidade do personagem principal - que disse assemelhar-se a um "secador de cabelo ao estilo de Picasso" - era uma evidência do "poder da criatividade do Reino Unido".
Johnson disse ainda que este desenho animado, que "foi rejeitado pela BBC e já foi exportado para 180 países", vale agora seis mil milhões de libras, qualquer coisa como 7,2 mil milhões de euros. “Eu acho que é de puro génio, não é? Nenhum governo no mundo, nenhum funcionário público de Whitehall, concebivelmente avançou com a Peppa. "
Depois de afirmações que foram também interpretadas como um 'ataque' ao canal público britânico, Johson protagonizou outro momento digno de registo, ao imitar o som de um carro a acelerar, palavras que a transcrição oficial de Downing Street transcreveu como “arum arum aaaaaaaaag”.
Mais tarde, viria a comparar-se com o profeta Moisés, quando falou do seu plano para ajudar as empresas a investir no combate às mudanças climáticas. "Eu disse aos meus funcionários que os novos 10 mandamentos eram:‘ Deves desenvolver indústrias como a energia eólica, hidrogénio, energia nuclear e captura de carbono".
Uma figura parlamentar dos Tories, ao Guardian, classificou o discurso como o " mais embaraçoso de um primeiro-ministro conservador", revelando que Boris "está a perder a confiança do partido".
Do lado dos empresários as reações foram semelhantes. Juergen Maier, vice-presidente do Northern Powerhouse Partnership e antigo CEO da Siemens, disse também ao Guardian que este foi um "discurso falhado".
"Foi um fracasso. Foi uma divagação. Foram muitas iniciativas desconexas, algumas obviamente sem relevância… Como empresário apaixonado pela reindustrialização do Norte, foi uma grande deceção", disse.
O discurso foi de tal forma criticado e recebido com perplexidade por quem o ouviu que foi necessário esta terça-feira um esclarecimento por parte de Downing Street para garantir que o primeiro-ministro britânico está bem de saúde e que não perdeu o seu controlo durante aquele discurso.
Mais, na leitura do porta-voz do líder do governo, as pessoas que assistiram ao discurso ficaram impressionadas, uma conclusão tirada após uma conversa em jeito de balanço com pessoas da Confederação da Indústria.
“O primeiro-ministro perdeu-se brevemente no discurso”, disse o porta-voz. “Ele faz centenas de discursos. Não acho que seja incomum que as pessoas, em raras ocasiões, se possam perder. ”
Quanto às críticas que foram dirigidas a Boris Johnson por outros conservadores, o porta-voz de Downing Street rejeitou responder a palavras anónimas, realçando que todos os membros do governo têm abertura para expressar as suas preocupações ao primeiro-ministro nas reuniões.
O The Guardian apresenta uma versão completa do discurso em inglês aqui.
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