Em declarações aos jornalistas, Luís Neves deu mais esclarecimentos sobre a operação anunciada pela PJ na quinta-feira, que decorreu em articulação com as autoridades brasileiras, e sublinhou que o detido é o “único português que está neste momento identificado”, destacando a “capacidade de liderança” para instigar através da Internet outros jovens a cometerem crimes, sobretudo no Brasil, onde foi associado ao ataque numa escola de Sapopemba.
“Estancámos uma atividade que ia ter mais mortos, mais jovens, mais escolas atacadas, mais crimes de massa, mais sofrimento humano. É um trabalho de repressão, mas também um trabalho preventivo global”, referiu, salientando os “atos bárbaros” e de cariz extremista que eram difundidos no grupo da plataforma de Internet em que este jovem operava.
Segundo Luís Neves, o fenómeno de incentivo à criminalidade violenta através das redes sociais e da Internet é algo que “preocupa sobremaneira” a PJ, pelo que a investigação vai continuar.
“Estamos já a contactar com a Europol, porque temos a sensação que há outros comportamentos de idêntica tipologia. Vai ser um trabalho de desmultiplicar a investigação. Estamos a trabalhar em contrarrelógio. Há mais suspeitos, mas não em território nacional. Não temos nenhum indício que permita apontar nesse sentido”, disse.
Sobre o jovem, que foi hoje presente a juiz para o primeiro interrogatório no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), o diretor da PJ realçou o perfil de mentor para aquela comunidade online, considerando que “tinha uma capacidade de liderança enorme para fazer movimentar outros jovens de idênticas idades, sobretudo brasileiros, no sentido de radicalizar outros, de se automutilarem, de cometerem crimes”.
Luís Neves assumiu que chegar à identificação do jovem foi como “encontrar uma agulha num palheiro”, descrevendo um trabalho “moroso e de filigrana” desde o final do ano passado, quando os factos foram comunicados à PJ. Nesse sentido, alertou para as famílias terem “uma maior atenção” aos jovens e para os riscos do seu isolamento social, apresentando um exemplo de um outro crime que estaria em preparação.
“Um dos crimes que estava a ser programada no Brasil era um homicídio com laivos de demorado sofrimento de um mendigo, em que essas imagens iam ser transmitidas no ambiente cibernético e em que cada assistente pagaria uma determinada quantia. Estamos a falar de um conjunto de crimes que foi inviabilizado”, referiu.
De acordo com o comunicado divulgado na quinta-feira pela PJ, a investigação foi conduzida pela Unidade Nacional de Contraterrorismo, sendo o jovem português suspeito dos crimes de homicídio qualificado, ofensas à integridade física qualificada e discriminação e incitamento ao ódio e à violência, bem como a prática de crimes pornografia de menores.
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