“Se for pescada, o homem, como predador de topo, ajuda a controlar este desequilíbrio no ecossistema, adicionando valor, porque a corvina americana também é um recurso pesqueiro que pode e deve ser mais valorizado”, disse à Lusa a investigadora Alexandra Teodósio, da Universidade do Algarve (UAlg).
A corvina americana, de nome científico Cynoscion regalis, uma espécie marinha nativa da costa leste da América do Norte, foi detetada pela primeira vez no Algarve por pescadores de Vila Real de Santo António, em 2016, no estuário do Guadiana, tendo sido depois identificada por investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da UAlg.
De acordo com a investigadora e docente na universidade algarvia, “existe potencial para desenvolver uma pesca direcionada para a diminuição da abundância desta espécie invasora", que já é vendida nos mercados no sul de Portugal, embora com um preço em lota ainda relativamente baixo.
“Esta espécie não nativa da costa portuguesa é transacionada em lota por um preço entre os três e os cinco euros por quilograma, mas a sua comercialização pode ser incentivada e dar mais rendimento aos pescadores”, defendeu.
Na opinião de Alexandra Teodósio, a captura e comercialização da corvina americana “pode ser benéfica até na recuperação dos recursos nativos que estão em sobrepesca, tendo sempre em consideração que é uma espécie invasora sobre as quais devem existir medidas de controlo e de gestão”.
No entanto, a investigadora aponta a corvina americana, diferente em textura e tamanho da designada corvina tradicional, “como uma ameaça aos recursos nativos”, que pode ter um impacto na estrutura das comunidades “porque é muito voraz, alimentando-se de quase todos os recursos possíveis, desde bivalves até à própria corvina legítima”.
O estudo, desenvolvido pelos investigadores do grupo ECOREACH, do CCMAR, concluiu que os portugueses estão recetivos em introduzir a corvina americana nos seus hábitos alimentares e dispostos a pagar um preço de até 9,5 euros por quilograma.
“Foi um preço apontado pelos inquiridos e podemos concluir que existe um grande potencial para implementar um programa de pesca da corvinata americana ou corvinata e, ao mesmo tempo, reduzir o número desta espécie e minimizar os seus impactos na nossa costa”, resumiu Alexandra Teodósio.
De acordo com o estudo, os consumidores demonstraram uma preferência na compra da corvina americana – um peixe selvagem –, em comparação aos peixes produzidos em aquacultura, como o robalo ou o sargo.
Com os dados fornecidos pelos inquiridos foi possível concluir que um programa de pesca para reduzir o número desta espécie na costa portuguesa, referem os investigadores.
Este programa de pesca pode beneficiar as comunidades piscatórias locais – como nos estuários do Sado, Mira e Guadiana –, uma vez que representa uma fonte adicional de rendimento, transformando uma ameaça numa oportunidade.
As espécies invasoras são aquelas que se estabelecem em locais fora da sua área de distribuição e que por diversos fatores - como ficarem presas nos cascos de embarcações ou serem introduzidas deliberadamente para consumo ou fins recreativos – chegam a um novo local, adaptam-se à nova região e ficam a viver nessa zona.
Contudo, algumas espécies invasoras podem perturbar o funcionamento natural dos ecossistemas e causar perdas a nível económico.
A sua erradicação é muitas vezes impossível após o seu estabelecimento, particularmente em ambientes aquáticos.
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