Marilson, 20 anos, é jardineiro do parlamento de Cabo Verde, na Praia, mas desde criança que impressiona todos à sua volta com desenhos e pinturas.
Cresceu a querer ser “um grande pintor”, mas a falta de rendimentos tem travado o sonho, deixando o restauro e pintura de sapatilhas como sinal visível da sua paixão, que assina na Internet como ‘Arte Dnox Crioulo Official’.
Com o 12.º ano de escolaridade concluído, inscreveu-se numa formação na área do desenho e pintura, em 2022, mas não chegou ao fim.
“Acabei por desistir”, por falta de dinheiro para pagar as propinas e transportes, diz, com mágoa, porque queria “ganhar conhecimentos” e experiência com quem também se dedicada às artes.
Apesar dos obstáculos, mantém a ambição, graças a uma motivação particular que recebeu quando era criança: “Alguns não acreditavam, mas a minha professora tinha tanta confiança em mim que disse que, um dia, eu ia conseguir alcançar o meu sonho. E eu não quero desistir”.
Com uma vocação conhecida de todos, alguns amigos começaram a sugerir-lhe que aplicasse a arte ao pronto-a-vestir ou calçado e assim arrancou a carreira que faz das redes sociais a sua principal montra.
Marilson vive em casa da mãe, na Várzea, um dos bairros centrais da Praia, e é numa divisão ainda em construção que ocupa uma única mesa com pincéis, tintas acrílicas, uma ‘airbrush’ (nome dado à máquina de pinturas) e um secador de cabelo.
Ao lado, uma sapateira está quase cheia com encomendas, não só de Cabo Verde, mas também de Portugal e França.
“Quando comecei a fazer desenhos realistas nos sapatos dos clientes, vi que eles não ficavam satisfeitos. É um desafio imenso”, conta, um desafio agravado pela falta de recursos para “comprar todos os equipamentos”.
“Tenho uma ‘airbrush’, mas é fraca, o trabalho não fica como quero e os clientes querem a perfeição”, por isso, sempre que pode, poupa para investir no negócio.
Leva quatro horas para desenhar um par de calçado, seja um desenho de girassol, seja para fazer a cara de alguém — além de Cize (Cesária), numas sapatilhas que já vendeu, e também Amílcar Cabral, fundador da independência, foi um ícone que já pintou.
Figuras da história surgem ao lado de heróis de banda desenhada e cada personalização custa 3.000 escudos (27 euros), “um preço acessível”, tendo em mente um equilíbrio entre crise económica no país e os requisitos da arte.
(Reportagem por Rosana Semedo, Ricardino Pedro e Elton Monteiro, da agência Lusa)
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