“A Comissão identifica, diariamente, mais de 2.700 artigos com potencial desinformação relacionada com o novo coronavírus”, refere o executivo comunitário num relatório hoje divulgado sobre as ‘fake news’ (notícias falsas) em altura de pandemia.
Tendo por base os “milhões de ‘posts’ [publicações] falsos ou enganosos” reportados pelas plataformas ‘online’ à Comissão Europeia, a instituição observa no documento (datado de final de abril) que “existe um potencial muito grande de desinformação a florescer”.
“A desinformação relacionada com o novo coronavírus, desde a propagação de esquemas perigosos e de informações enganosas sobre os cuidados de saúde, até à fraude para os consumidores, é prejudicial tanto para a saúde pública, como para os consumidores”, realça o executivo comunitário.
E precisa: “Alegações falsas de que ‘não ajuda lavar as mãos’ ou de que ‘o novo coronavírus é apenas um perigo para os idosos’ podem pôr vidas em perigo”.
Bruxelas adianta que a União Europeia (UE) e os seus Estados-membros “estão determinados a combater as ações de quem tenta explorar a crise para pôr em risco a vida dos cidadãos ou que espalham propaganda e narrativas de ódio”.
Estes dados foram transmitidos ao executivo comunitário por plataformas digitais como a Google, Facebook, Twitter, Microsoft e Mozilla, que se comprometeram no final de 2018 a combater a desinformação nas suas páginas, através da assinatura de um código de conduta contra as ‘fake news’, um mecanismo voluntário de autorregulação que nos últimos meses tem sido centrado na desinformação sobre a covid-19.
Também num relatório hoje divulgado, de acompanhamento deste código de conduta e referente a 2019, o Grupo de Reguladores Europeus dos Serviços de Media Audiovisuais (ERGA) alerta para a necessidade de “proteger uma sociedade democrática que é ameaçada pela desinformação politicamente motivada”.
“A existência deste perigo é confirmada […] pela abundância de falsas notícias, orientadas pelo lucro e/ou por objetivos políticos, que acompanharam o recente surto e a resposta à covid-19 em todas as plataformas disponíveis na Europa”, acrescenta a ERGA no seu relatório.
Referindo que “é necessário considerar a revisão do código de conduta”, nomeadamente de forma a incluir neste mecanismo todas as plataformas digitais existentes na Europa, a ERGA pede ainda à Comissão Europeia “uma mudança da atual abordagem autorreguladora flexível para uma abordagem mais correguladora”.
Reagindo ao relatório, a vice-presidente do executivo comunitário para os Valores e a Transparência, Vera Jourová, destaca em comunicado o “primeiro impacto positivo” do contacto entre Bruxelas e as plataformas.
Porém, Vera Jourová admitiu haver “muito a fazer”, pelo que remeteu mais medidas para o Plano de Ação para a Democracia Europeia, que será divulgado pela Comissão, ainda sem data.
Recentemente, o combate à desinformação na UE esteve em foco numa polémica relacionada com alegada cedência do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) a pressões da China.
A polémica surgiu com um artigo do jornal New York Times, na semana passada, segundo o qual o mais recente relatório do SEAE sobre ‘fake news’ foi alterado depois de pressões da China para que a linguagem fosse suavizada.
Negando esta cedência, a diplomacia europeia reagiu apontando a China como fonte de algumas das campanhas de desinformação promovidas no quadro da atual pandemia.
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