Um jogador começar o encontro no banco raramente é notícia. Mas quando o jogador em causa é Cristiano Ronaldo é uma última hora. Porquê?
- Em primeiro lugar, é uma situação rara. Desde que se estreou pela seleção nacional, num amigável frente ao Cazaquistão em 2003, e até esta quinta-feira, Ronaldo só se tinha sentado no banco da seleção em 13 ocasiões, um valor pequeno ao lado das 186 internacionalizações. Aliás, tal não acontecia há cinco anos.
- Em segundo lugar, o contexto é invulgar. Apesar de Fernando Santos ter abordado o calendário "exagerado" da Liga das Nações , com quatro jogos em 10 dias, e ter prometido rotação, o capitão da seleção nacional não disputa um jogo desde o dia 7 de maio, data em que o Manchester United foi goleado pelo Brighton & Hove Albion. Tendo em conta que não foi apontado qualquer problema físico a CR7, é de estranhar a ausência a titular no jogo, teoricamente, mais complicado, diante da poderosa seleção espanhola. No final o encontro a decisão foi justificada como opção técnica.
- Em terceiro lugar, para analisarmos este caso, não podemos descurar nem a idade de Cristiano Ronaldo (37 anos) nem o facto de muito se falar que o Campeonato do Mundo deste ano, disputado no Qatar, poderá ser o último do avançado. Se por um lado Fernando Santos poderia aproveitar esta competição para organizar a equipa e preparar o Mundial com Ronaldo a ocupar o lugar principal, o que tem sido caso nas últimas competições, o técnico português pode estar também a traçar o plano pós-Ronaldo, essa ideia coletiva dolorosa que vive escondida num recanto do imaginário português.
Colocando este último ponto em perspetiva, como é que se saiu a equipa sem o capitão? A seleção portuguesa não apareceu muito diferente das últimas ocasiões, defensiva e apostar em situações de desequilíbrio. O adversário que gosta de ter a bola no pé assumiu naturalmente o jogo e foi sempre mais perigoso, inaugurando o marcador na primeira parte depois de um erro de João Cancelo que permitiu um contra-ataque espanhol que lançou uma boa jogada coletiva entre Gavi, Sarabia e Morata, com o ponta de lança da Juventus a marcar.
Os avançados portugueses tiveram nos pés boas oportunidades. Rafael Leão teve duas boas ocasiões para marcar, uma na primeira parte e outra na segunda. Na primeira, diante do guarda-redes, junto ao poste esquerdo da baliza, atirou por cima. Na segunda, na mesma posição, mas na outra baliza, num lance mais rápido, rematou para defesa de Unai. André Silva teve a melhor oportunidade do jogo, mas também não conseguiu concretizar.
Pouco depois dos 60 minutos, Ronaldo saiu do banco para o lugar de Otávio, mas não teve impacto no jogo. O golo do empate apareceu aos 82 minutos, num contra-ataque, com Cancelo a redimir-se no erro no primeiro golo e a oferecer o empate a Ricardo Horta, avançado que oito anos depois voltou a ser chamado à seleção, depois da melhor época na carreira ao serviço do Sporting de Braga, da melhor forma.
No atual modelo de Fernando Santos é difícil imaginar uma seleção melhor ou pior sem Ronaldo. Sendo óbvio que um jogador como avançado — que ao longo da carreira venceu cinco Bolas de Ouro e que, aos 37 anos, em Inglaterra, naquela que é considerada a melhor liga do mundo, com o United, faz mais de 20 golos numa época — está destinado a fazer a diferença em campo, o modelo de jogo da seleção não promove um ataque onde Cristiano possa brilhar de forma constante. Nem Rafael Leão ou André Silva, que são jogadores habituados a uma dinâmica mais coletiva nos seus clubes e não há um jogo de bola longa.
No entanto, a voz de Cristiano Ronaldo será sempre fundamental dentro de campo, pela experiência e pela capacidade em não desistir.
O futuro da seleção e o papel que Ronaldo vai ter na mesma até ao Mundial de 2022 só poderá ser respondida por Fernando Santos. Aguardemos por pistas nos próximos três jogos — Suíça, República Checa e novamente Suíça.
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