O Reino Unido, com mais casos, e a Itália, com mais peso na transmissão comunitária, foram os países com maior impacto no início da pandemia de covid-19 em Portugal, revela hoje um estudo do Instituto de Saúde Ricardo Jorge.
Pelo menos 277 pessoas infetadas com SARS-CoV-2 oriundas de 36 países entraram em Portugal até 31 de março de 2020, sendo a maioria do Reino Unido, Espanha, França, Itália e Suíça,
Outra das conclusões do estudo é que, apesar dos primeiros casos de covid-19 notificados em Portugal reportarem a 2 de março de 2020, terão existido potenciais introduções ainda no final de janeiro, tendo a maioria ocorrido a partir da última semana de fevereiro, numa “transmissão comunitária que já estava a decorrer de forma silenciosa”.
As conclusões fazem parte de “um trabalho extenso do estudo da diversidade genética do novo coronavírus” que o INSA está a realizar desde o início da pandemia, tendo como um dos principais objetivos identificar as principais introduções do vírus no país, nomeadamente os países que terão contribuído mais para essa situação, disse à agência Lusa Joana Isidro, do Núcleo de Bioinformática do Departamento de Doenças Infecciosas.
“Em março de 2020, houve um enorme esforço, conjuntamente com múltiplos laboratórios e hospitais, para conseguirmos recolher amostras e obter a informação genética dos vírus que circularam nessa fase inicial da pandemia e isso fez com que fôssemos um dos países [o quinto do mundo] que conseguiu recolher mais informação a nível da informação genética do novo coronavírus” nessa fase da epidemia, adiantou Joana Isidro.
O investigador Vítor Borges acrescentou que foram analisadas 1.275 amostras de vírus colhidas em Portugal até ao final de março, representando 15,5% dos casos confirmados nesse período.
Com estas sequências conseguiu-se prever, com base na singularidade genética e com o historial de viagem associado aos pacientes de onde essas amostras foram colhidas, que houve pelo menos 277 introduções independentes do vírus em Portugal até 31 de março provenientes de “múltiplos países”, como os Emirados Árabes Unidos, Argentina, Brasil, Grécia, Países Baixos, Andorra e Islândia.
Segundo os investigadores, o país que terá contribuído com o maior número de introduções foi o Reino Unido, seguido da França, Espanha e Itália.
“Cada uma destas introduções teve um impacto diferente. Houve introduções que tiveram cadeias de transmissão muito limitadas e causaram poucos casos, enquanto houve outras que causaram muitos casos”, sublinhou Vitor Borges.
Apesar de Itália ter tido muito menos introduções do que, por exemplo, o Reino Unido, foi o país que teve mais peso na transmissão comunitária em Portugal.
Estima-se que um contágio ocorrido na região da Lombardia por volta do dia 21 de fevereiro tenha originado cerca de 4.000 casos de covid-19 em Portugal, dispersados por 44 municípios de 11 distritos, quase exclusivamente na Região Norte e Centro, onde se estima que terá sido responsável por cerca de 20% e 60% dos casos, respetivamente nestas duas regiões, durante a primeira fase da epidemia.
Relativamente ao número de infeções provenientes de cada país e em que região de Portugal terão sido introduzidos, o estudo aponta que o Reino Unido teve um “grande peso”, com muitas entradas em Lisboa e Vale do Tejo e no Norte.
“A Espanha teve introduções transversais ao longo do país”, disse Vítor Borges, apontando o facto “muito curioso” de muitas entradas terem ocorrido nas regiões fronteiriças.
Esta situação denota que, além das introduções por via aérea de doentes infetados que regressaram ao país ou turistas, houve também muitas introduções no intercâmbio fronteiriço entre os dois países, explicou.
De acordo com os investigadores, muitas das variantes que tiveram um grande impacto no início da pandemia, como a de Itália, não foram encontradas numa grande amostragem nacional que o INSA realizou em novembro, o que mostra que as medidas de saúde pública tomadas foram capazes de mitigar essa disseminação.
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