Respondendo a uma pergunta colocada na conferência de imprensa de acompanhamento da pandemia, o representante do departamento legal da organização, Steve Solomon, reconheceu que Taiwan enviou à OMS um ‘email’ em 31 de dezembro pedindo informação sobre “sete casos de pneumonia atípica” que se tinham verificado na cidade chinesa de Wuhan, epicentro do que viria a ser a pandemia da covid-19.

“O ‘email’ não era um aviso e só continha informação que a OMS já tinha detetado”, afirmou Steve Solomon, que reiterou que aquela agência das Nações Unidas não ignorou qualquer aviso sobre a transmissibilidade entre humanos e que, dias depois do ‘email’, mesmo quando ainda não havia certeza sobre essa transmissibilidade, as orientações da OMS aos seus membros já se baseavam na possibilidade de ocorrer contágio entre seres humanos.

Solomon leu o 'email' de 31 de dezembro na totalidade, em que se afirmava que “meios de comunicação indicam que há pelo menos sete casos de pneumonia atípica registados em Wuhan”.

“As autoridades de saúde chinesas responderam aos meios de comunicação que não se pensa que sejam casos de SARS (Síndrome respiratória aguda grave). Contudo ainda estão sob análise e os casos foram isolados”, lia-se ainda no ‘email’ do centro de controlo de doenças taiwanês.

Posteriormente, viria a provar-se que se tratava de um novo coronavírus da mesma família do que provoca SARS, e que viria a ser batizado SARS-Cov2, responsável pela doença covid-19.

O diretor executivo do programa de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan, afirmou que “dizer que pneumonia atípica é a mesma coisa que SARS é completamente incorreto”.

“A pneumonia atípica é uma forma extremamente comum de pneumonia que ocorre em todo mundo. Há milhões de casos todos os anos” e o que quer dizer é que pode não ser diagnosticada como uma pneumonia provocada pelas causas mais comuns, geralmente bactérias mas potencialmente vírus.

Steve Solomon voltou a rejeitar qualquer favorecimento da OMS à China em detrimento de Taiwan devido à animosidade entre a ilha e Pequim, que não lhe reconhece soberania e a considera formalmente uma província chinesa.

“Há cerca de 49 anos, as Nações Unidas e a OMS decidiram que só havia um representante legítimo da China no sistema das Nações Unidas: a República Popular da China”, ou seja, a China continental.

Essa decisão “ainda se mantém”, referiu Solomon, afirmando que a OMS, como “agência especializada” das Nações Unidas, tem de ser coerente com a organização a que pertence.

“O papel dos funcionários da OMS não é envolverem-se em questões de geopolítica”, declarou, frisando que os princípios de “neutralidade e imparcialidade” que regem a organização “existem para os manter afastados dessas questões”.

Steve Solomon reiterou que isso não impede a participação técnica de representantes de Taiwan na partilha de informação e nos mecanismos de colaboração internacional da OMS.

Quanto à participação de Taiwan – mesmo que como observador - na Assembleia Mundial da Saúde, a reunião magna dos países membros da OMS, vetada pela China, Solomon afirmou que “o secretariado da OMS não tem qualquer autoridade para decidir” sobre o assunto, apenas os estados membros podem mudar esse estatuto.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 247 mil mortos e infetou mais de 3,5 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Mais de um milhão de doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 1.063 pessoas das 25.524 confirmadas como infetadas, e há 1.712 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.