“A minha estimativa é que algures entre 2 mil e 3 mil portugueses no estrangeiro, entre turistas, viajantes ocasionais e estudantes estejam ainda a precisar de apoio para operações de regresso a Portugal”, disse augusto Santos Silva.
O chefe da diplomacia portuguesa falava hoje perante os deputados da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas da Assembleia da República, onde foi chamado pelo Partido Social Democrata (PSD) para prestar esclarecimentos sobre o apoio de Portugal aos portugueses no estrangeiro.
Em resposta a perguntas dos deputados, Santos Silva disse que desde a declaração da pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), os serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros receberam quatro mil pedidos de apoio de portugueses no estrangeiro.
Em causa estão na sua maioria, segundo o chefe da diplomacia, turistas, viajantes ocasionais e estudantes do programa Erasmus.
Santos Silva adiantou que foi já possível encerrar os processos de repatriamento de vários países, mas alertou que tal não significa que o Governo não venha a ser confrontado com novos pedidos de apoio destes mesmos países no futuro.
Argélia, Egito, China, Chipre, Irão, Maldivas, Marrocos, Mongólia, Panamá, Costa Rica, Polónia foram os países de onde o MNE já concluiu o repatriamento de portugueses, bem como dos navios ao largo do Japão e dos Estados Unidos.
Na Singapura e na Tunísia, o repatriamento de portugueses está parcialmente concluído.
“Este é um processo dinâmico”, disse o ministro.
Como exemplo, apontou o caso dos estudantes portugueses de Erasmus, adiantando que depois de contactados todos os cerca de 4 mil estudantes recenseados pela agência nacional de Eramus em Portugal, sugiram cerca de mais 1.500 que não tinham sido reportados pelas instituições de ensino à referida agência.
Santos Silva deixou garantias que, mesmo em relação aos países onde o repatriamento já foi dado como concluído, se houver novos pedidos eles serão respondidos, sublinhando as dificuldades criadas pelas medidas de prevenção e sanitárias decretadas por alguns países, nomeadamente encerramento do espaço aéreo, o fim das ligações com a Europa ou a imposição da lei marcial.
“Temos estado a pedir exceções para o regresso de cidadãos portugueses ou europeus. Há países que têm sido extremamente cooperativos no acolhimento destes pedidos”, disse, agradecendo nomeadamente aos países lusófonos.
Santos Silva lembrou, neste contexto, que está em curso a realização de voos para trazer os portugueses de Cabo Verde e que Portugal está a liderar uma operação de repatriamento de europeus do Peru, onde estão cerca de 60 portugueses, que deverão regressar num voo ainda esta semana.
Adiantando que na segunda-feira foi feito um voo para Moçambique, disse esperar que a TAP consiga fazer na quarta-feira o mesmo tipo de ligações com Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
O ministro manifestou ainda preocupação com a Venezuela, onde as medidas adotadas no contexto da prevenção da pandemia covid-19 se somam à decisão tomada anteriormente pelo país de suspender a ligação da TAP entre Lisboa e Caracas e aos efeitos das sanções decretadas ao país pelos Estados Unidos.
Questionado pelos deputados sobre a forma como Portugal pretende fazer chegar aos portugueses residentes naquele país o apoio em medicamentos que lhes vinha prestando no contexto da crise política e económica no país, Augusto Santos Silva admitiu não ter uma solução depois de ter sido fechado o espaço aéreo com a Europa.
Santos Silva adiantou que a linha de apoio da covid-19 criada no MNE recebeu já 8 mil chamadas, sendo que a taxa de chamadas perdidas é de 25%, um calor considerado alto pelo ministro.
Questionado pelos deputados de todas as bancadas sobre a multiplicidade de pedidos e queixas dos portugueses no estrangeiro por alegada falta de respostas de Governo, Santos Silva assegurou que não há consulados fechados, mas que alguns tiveram de suspender o atendimento presencial por determinação das autoridades locais.
Sobre os portugueses residentes no estrangeiro, o ministro repetiu o apelo para que cumpram as orientações das autoridades dos países onde vivem, admitindo poder repatriar cidadãos em países cuja fragilidade dos sistemas de saúde ou situações de insegurança publica possam criar insegurança pessoal.
Adiantando que todos os portugueses têm direito de regressar ao país, apelou para que à chegada cumpram o isolamento.
Apelou também aos portugueses que não viagem nesta altura por não ser possível garantir que possam regressar.
“Há pessoas que pedem apoio ao MNE agora e que partiram de férias para a Ásia há menos de 15 dias. Pedem ajuda ao estado português - por vezes em termos que parece que tínhamos que largar tudo e mandar um F16, violando as interdições aéreas e ir resgatá-los a qualquer sítio - , quando desafiaram qualquer bom senso e as orientações expressas do MNE quando decidiram partir de férias há muito poucos dias”, disse.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 386 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 17.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 6.077 mortos em 63.927 casos. Segundo as autoridades italianas, 7.024 dos infetados já estão curados.
A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, onde a epidemia surgiu no final de dezembro, conta com mais de 81.000 casos, tendo sido registados 3.277 mortes.
Nas últimas 24 horas a China reportou 78 novos casos, sendo quatro de contágio local e os restantes importados.
As 74 infeções importadas do exterior levantam receios de nova onda de contágio. Depois de cinco dias sem novas infeções locais, foi reportado um novo caso local, em Wuhan.
Os países mais afetados a seguir à Itália e à China são a Espanha, com 2.696 mortos em 39.673 infeções, o Irão, com 1.934 mortes num total de 24.811 casos, a França, com 860 mortes (19.856 casos), e os Estados Unidos, com 499 mortes (41.511 casos).
Em Portugal, há 30 mortes, mais sete do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que regista mais 302 casos do que na segunda-feira.
Dos infetados, 203 estão internados, 48 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram. Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
(Notícia atualizada às 15:15)
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