“Isto para quatro enfermeiros. O conselho de administração tenta gerir, conseguiu um reforço de enfermeiros a meio da noite, mas não é humanamente possível (…). A tutela tem de tomar uma decisão importantíssima e olhar para este hospital, o mais preocupante a norte, de forma incisiva”, disse à Lusa o presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros.
João Paulo Carvalho disse ter conhecimento de que “às 22:00 de ontem [segunda-feira] a área respiratória da urgência tinha 115 doentes”, sendo que “31 tinham sido triados por enfermeiros e tinham seis horas de espera para observação médica”.
“Somavam-se 55 doentes à espera de exames complementares e 29 casos covid-19 a partilhar o mesmo espaço. Hoje às 08:00 eram 60 os doentes na mesma área e às 16:00 eram 101, 35 dos quais internados na urgência”, acrescentou.
Às informações que disse terem-lhe sido transmitidas por “colegas exaustos e no limite”, João Paulo Carvalho juntou críticas e apelos.
“É impossível prestar cuidados nestas condições. Ontem [segunda-feira] conseguiram mais três enfermeiros para reforçar a equipa. Quando a tutela oferecer contratos de quatro meses, os chamados ‘contratos covid’, as dificuldades em contratar enfermeiros são muitas”, disse o presidente da secção regional do Norte.
Com unidades em Penafiel e em Amarante, em causa está um hospital do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) que presta apoio a cerca de 520 mil pessoas de uma região que inclui Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras, concelhos onde o Conselho de Ministros decretou dever de permanência no domicílio.
João Paulo Carvalho acrescentou saber que 13 enfermeiros deste centro hospitalar estão infetados com o novo coronavírus e que no Hospital Padre Américo estão internados 164 internados covid-19, num total de capacidade instalada de 454 camas.
“Alguma coisa tem de ser feira. A tutela, de forma pomposa e mediática, colocou lá na semana passada um hospital de campanha. Pergunto aos meus colegas e dizem-me que só serve para fazer colheitas e que não existem recursos humanos. Não é uma resposta eficaz”, referiu João Paulo Carvalho.
O presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros, que defende uma cerca sanitária a concelhos daquela região, alertou que “dos seis concelhos com mais novos casos covid-19 nas últimas duas semanas, cinco são do Vale do Sousa”, referindo-se a Paços de Ferreira, Lousada, Paredes, Felgueiras e Penafiel.
“São todos da mesma área, todos de uma área onde foi construído um hospital pensado para 350 mil pessoas, mas a apoiar mais 200 mil. De que forma é que os doentes não covid estão a ser tratados? Estamos muito focados e a esgotar recursos na covid, mas há outras situações muito complexas. Quando o lençol é curto, não dá para tapar a cabeça e os pés”, sublinhou.
O responsável também defende que os doentes da área do CHTS “comecem a ser desviados” para outras unidades hospitalares e que os setores privado e social “sejam envolvidos no processo”.
“Isto tem de ser feito urgentemente. Neste momento as pessoas não aguentam mais. Risco é grande e, numa situação destas, os procedimentos não podem ser aligeirados como já começam a ser”, concluiu.
A agência Lusa solicitou informações ao CHTS, mas até ao momento sem sucesso.
Na sexta-feira, o presidente do CHTS, Carlos Alberto Silva, garantiu que “não está em rutura”, revelando que contratou 130 profissionais devido à “pressão” da pandemia da covid-19.
“O CHTS está debaixo de uma pressão muito grande, devido à grande incidência de infeções covid-19 na região. Mas é um hospital do Serviço Nacional de Saúde pelo que, naturalmente, recorre à rede. Não está em rutura”, garantiu à agência Lusa o presidente do conselho de administração, Carlos Alberto Silva.
Também na sexta-feira a ministra da Saúde disse que há concelhos na região norte que “merecem maior preocupação” e estão a ser avaliados “muito concretamente” pelas autoridades de saúde.
E, no mesmo dia, em declarações à Lusa, o secretário de Estado Eduardo Pinheiro, que é também responsável pela coordenação da situação de calamidade na região Norte do país, disse à Lusa que, no caso do Tâmega e Vale do Sousa, a capacidade do hospital seria reforçada “já nestes dias”.
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