Em declarações à agência Lusa, Pedro Correia Maia, um dos impulsionadores do movimento "A Pão e Água", avançou que a luta do setor da restauração, contra as novas medidas governamentais de combate à pandemia, vai continuar, estando já previstas para esta semana concentrações em Aveiro e em Lisboa.
“Puseram-nos a não trabalhar ao fim de semana que é matar-nos aos poucos”, declarou à Lusa o ‘chef’ António Queirós Pinto, do Restaurante Tormes, em Baião, distrito do Porto, referindo que decidiu encerrar o restaurante nos próximos dois fins de semana em que o Governo anunciou que as pessoas devem recolher a casa a partir das 13:00, porque “não vale a pena”, na medida em que no fim de semana do feriado de 01 de novembro “foi quase zero” o trabalho.
António Queirós Pinto promete levar a “luta até ao fim”, mesmo sem prever uma data para esse fim.
“Estamos aqui para lutar pelos nossos direitos e também para conseguir cumprir com os nossos deveres. Está cada vez mais difícil. As medidas são cada vez piores a cada dia que passa, em especial para a restauração e para a hotelaria, e não vemos maneira disto se alterar. Já era difícil com o horário que nos propuseram das 22:30, era difícil antes com a redução da capacidade do restaurante e agora puseram-nos a não trabalhar ao fim de semana”, lamentou.
Andreia Martins, do Restaurante Coreto, especializado em “carnes maturadas”, saiu hoje de manhã do concelho da Maia, distrito do Porto, com mais 20 pessoas, para a manifestação na Avenida dos Aliados, no centro da cidade do Porto.
“Queremos trabalhar. Estas restrições não têm lógica nenhuma. Não somos anti-medidas covid, mas queremos trabalhar. Só queremos o nosso horário, porque a covid-19 não está nos restaurantes”, declarou à Lusa.
Hugo Sousa, cozinheiro no Hotel Dom Henrique, na Baixa do Porto, e vencedor do Concurso Chefe Cozinheiro do Ano, também participou hoje na manifestação nos Aliados e disse à Lusa que, após 20 anos de profissão, está disposto a lutar contra as novas medidas de restrição “até onde for preciso”, porque teve de fechar o restaurante do hotel.
“Estas novas restrições vieram agravar mais a situação, porque os dias que mais faturamos são sempre os sábados e os domingos, porque, embora não haja turistas externos, tínhamos os habitantes da cidade que aos fins de semana vão desfrutar com as suas famílias e agora é impossível fazê-lo”, explicou, assumindo que com tantos encargos inerentes ao serviço da restauração e com esta restrição de trabalhar à noite, e sem as pessoas poderem andar na rua, é impossível ter as portas abertas.
Mais de uma centena de cozinheiros, empregados de mesa e de bar e donos de restaurantes protestaram hoje, ao longo de toda a manhã, na Avenida dos Aliados, contra as novas medidas de restrição no setor da restauração anunciadas pelo primeiro-ministro, António Costa, gritando “queremos trabalhar, temos contas para pagar” e questionando se a “cura tem de ser a morte para os restaurantes”.
Entre cartazes, tachos, panelas, colheres de pau e cacetes de pão na mão, alguns dos manifestantes prepararam ainda uma espécie de almoço piquenique nos Aliados, onde foi estendida uma toalha branca no chão e colocados pratos vazios e talheres, mas onde não havia comida.
O Governo anunciou o recolher obrigatório entre as 23:00 e as 05:00 nos dias de semana, a partir de hoje e até 23 de novembro, nos 121 municípios mais afetados pela pandemia, sendo que, ao fim de semana, o recolher obrigatório inicia-se a partir das 13:00 nos mesmos 121 concelhos.
Portugal contabiliza pelo menos 2.896 mortos associados à covid-19 em 179.324 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
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