Intervindo na reunião dos ministros do Comércio da União Europeia (UE), que se realiza por videoconferência devido às restrições adotadas para tentar conter o surto, o comissário europeu do Comércio, Phil Hogan, apontou que o executivo comunitário já adotou “orientações relativas ao investimento direto estrangeiro, à livre circulação de capitais e à proteção dos ativos estratégicos da Europa”, numa altura que as companhias comunitárias estão frágeis devido à paragem dos negócios.
Segundo Phil Hogan, em causa estão “duas preocupações principais” para Bruxelas, uma das quais “diz respeito à atual volatilidade e subvalorização dos mercados bolsistas europeus”.
“Esta vulnerabilidade económica poderá resultar na venda de infraestruturas ou tecnologias cruciais [a nível europeu], o que deverá ser evitado”, vincou o responsável.
Para o comissário europeu do Comércio, uma outra preocupação é a “proteção dos ativos estratégicos da UE”, área onde se incluem “as capacidades em matéria de cuidados de saúde - como a produção de equipamento médico ou de proteção - ou indústrias conexas, como as instituições de investigação, por exemplo, para o desenvolvimento de vacinas”.
“Estas [companhias] são fundamentais na atual crise sanitária”, vinca Phil Hogan.
Dadas as medidas restritivas para tentar conter o surto na UE, são já várias as empresas do espaço comunitário com dificuldades de liquidez, o que, segundo o executivo comunitário, pode deixá-las mais ‘à mercê’ do capital estrangeiro, vindo de países como a China ou Estados Unidos, os principais parceiros económicos da União.
No que toca à área das vacinas, por exemplo, chegou a ser avançado no mês passado que a administração norte-americana estava interessada em comprar a farmacêutica alemã CureVac para uma produção exclusiva para os Estados Unidos, o que foi depois desmentido.
Também nessa altura, Comissão Europeia anunciou um apoio de até 80 milhões de euros a este laboratório alemão, afirmando esperar que a vacina desenvolvida pela CureVac esteja no mercado até ao outono.
O investimento estrangeiro foi particularmente importante para os países que mais sofreram com a última crise financeira, entre os quais Portugal, mas a Comissão Europeia está agora particularmente preocupada com aquisições de infraestruturas críticas nos setores da saúde e tecnologia.
Em vigor há um ano está um regulamento da UE para monitorizar a entrada de capital estrangeiro, prevendo que Bruxelas possa intervir perante ameaças à segurança ou ordem pública, mas que estipula que a última palavra cabe sempre aos Estados-membros.
Este regulamento tem de ser adotado pelos Estados-membros até outubro deste ano.
Na sua intervenção, o comissário europeu Phil Hogan vincou que, “hoje mais do que nunca, a abertura da UE ao investimento estrangeiro deve ser contrabalançada por instrumentos de análise adequados”.
“Os Estados-membros que dispõem de mecanismos de rastreio devem utilizá-los plenamente e os que não dispõem de mecanismos de rastreio devem criar tais mecanismos”, apelou.
Falando aos ministros do Comércio da UE, Phil Hogan destacou, ainda, as “consequências profundas” que a pandemia terá para as trocas comerciais europeias, adiantando que “em breve” serão divulgados dados sobre o impacto nas exportações e importações da UE.
A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 133 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.
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