Suspensas no fim de semana anterior, à exceção da I e da II Liga portuguesa de futebol, as competições desportivas seniores das várias modalidades coletivas são retomadas no próximo, após o Governo ter equiparado os desportistas federados aos profissionais, mas o responsável pelos médicos portugueses frisa que a parca "capacidade financeira" de "muitos clubes" não profissionais exige a criação de um plano de apoio a todo o setor

"Era importante existir um plano para a pandemia e para o pós-pandemia, sobretudo. Muitos clubes nos desportos federados têm uma capacidade financeira muito baixa para fazerem aquilo que é pedido seja nas deslocações, seja na proteção que elas devem ter e no distanciamento enquanto não estão a jogar, seja no apoio aos próprios atletas", adianta, à Lusa.

Miguel Guimarães concorda com a carta aberta em que o Comité Olímpico de Portugal (COP), o Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e o Confederação do Desporto de Portugal (CDP) alertam o primeiro-ministro, António Costa, para uma "crise" no desporto, justificando a "importância" da atividade com a capacidade de "prevenir doenças"

"Quando falamos que a prevenção é um dos pilares fundamentais do Serviço Nacional de Saúde ou de qualquer serviço de saúde, a atividade física é absolutamente essencial. E a promoção da atividade física faz-se muito nos desportos federados [coletivos], em que há aqui uma motivação adicional para as pessoas praticarem, para interagirem, para jogarem em equipa", explica.

Para o bastonário, o desporto é ainda um veículo para o "desenvolvimento físico e mental" de quem o pratica, sobretudo nos "mais jovens", que se veem confrontados com a interrupção das competições de formação nos desportos coletivos - em outubro, o presidente da Confederação dos Treinadores de Portugal, Pedro Sequeira, adiantou que há mais de 300 mil jovens impedidos de praticarem desporto.

Essa paragem pode causar uma "perturbação negativa" nas "pessoas mais novas", até porque o desporto ajuda a "criar hábitos" que impulsionam o desenvolvimento pessoal noutros campos da sociedade, sugere Miguel Guimarães.

"Quem pratica desporto habitua-se a ir aos treinos, a estar lá a uma hora determinada e a cumprir horários, que é importante. Habitua-se a trabalhar em equipa. Habitua-se a estar com outras pessoas, a respeitar as pessoas e a participar na estratégia de uma equipa. A nível da nossa postura como cidadãos na sociedade, é muito importante", considera.

O médico teme, por isso, que os desportistas parados percam o "hábito adquirido", desistindo da modalidade que praticavam, algo que diz não ser bom para as "pessoas", nem para o desporto português.

Miguel Guimarães salienta ainda que a Direção-Geral da Saúde não conseguiu definir "regras claras" quanto às normas de saúde pública para "todos os eventos de massa", entre os quais alguns desportivos como a Fórmula 1, frisando que algum do desporto profissional ficou em "segundo plano".

"As medidas restritivas para proteger as pessoas, aumentar a segurança e conter a evolução da infeção, têm de ser aplicadas a todos os locais da mesma forma e não terem duas formas diferentes de o fazer, como aconteceu algumas vezes", diz.

O bastonário classifica ainda de "extraordinário" o trabalho dos médicos desportivos no contexto da pandemia, pela capacidade de "adaptação" demonstrada no seio das equipas de futebol das competições profissionais, retomadas logo em junho.

"Os médicos tiveram um grande poder de adaptação. Qualquer médico desportivo também está preparado para estes desafios. Além da especialidade desportiva, têm também outras especialidades. Há muitos ortopedistas que fazem medicina desportiva", disse, revelando que, em Portugal, há 133 profissionais inscritos na especialidade.