Em entrevista concedida às jornalistas da Antena 1 Maria Flor Pedroso e Susana Barros, que será transmitida na íntegra no sábado, a partir das 12:00, o líder do executivo minoritário socialista critica duramente a atuação das atuais direções do PSD e do CDS-PP, mas manifesta-se convicto que a relação entre o Governo e maior partido da oposição vai "seguramente" melhorar após a eleição do novo líder social-democrata, em janeiro.
Na perspetiva de António Costa, "vai finalmente poder-se falar com normalidade com o maior partido da oposição". "Na minha conceção da vida democrática é essencial que haja uma maioria, que é constituída com os partidos com quem temos um compromisso. Mas, há muitas matérias em que é preciso ter um diálogo normal com o maior partido da oposição - e com a atual direção do PSD é manifestamente impossível", sustenta.
No que respeita ao CDS-PP, o primeiro-ministro considera que este partido "tem uma linha política de ataque político personalizado, de insulto pessoal e de total irresponsabilidade, como, aliás, revelou nestas propostas de Orçamento do Estado" para 2018. "Tenho muita esperança que a nova liderança do PSD, seja ela qual for, permita uma relação normal e tranquila com o principal partido da oposição", acrescenta António Costa.
Neste ponto sobre as relações com a oposição, o primeiro-ministro ataca a atuação da presente direção do PSD a propósito dos incêndios florestais, acusando-a de ter ignorado o relatório da Comissão Técnica Independente e de apenas ter pretendido, de forma "absolutamente lamentável", explorar tragédias para fins políticos.
Segundo António Costa, a única entidade que retirou consequências a partir do relatório da Comissão Técnica Independente na sequência do incêndio de junho em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), "foi o Governo", acrescentando que os membros desta entidade "nunca foram ouvidos na Assembleia da República".
"Acho absolutamente extraordinário que o PSD, que propôs a constituição da comissão, seja o primeiro a não apoiar o relatório dessa mesma comissão. Aliás, o PSD propôs ao país a única medida que foi chumbada pela própria comissão", aponta.
O primeiro-ministro vai ainda mais longe nas suas críticas à direção liderada por Pedro Passos Coelho. "Ao longo destes meses houve comportamentos políticos absolutamente lamentáveis de exploração de uma tragédia para fins políticos. Acho isso absolutamente lamentável e compromete gravemente a credibilidade do relacionamento entre o Governo e o PSD", refere.
António Costa afirma, então, que o PSD propôs essa Comissão Técnica Independente "com total reserva mental, sendo-lhe absolutamente indiferente qual fosse a análise a as propostas dessa comissão".
Interrogado sobre o diferendo entre o Governo e os sindicatos dos professores em relação à forma como se deverá processar o descongelamento da carreira deste setor profissional, o primeiro-ministro insiste que não podem ser alimentadas "falsas expetativas".
"Mas, temos esperança de que em diálogo - o povo diz que é falar que a gente se entende - se possa encontrar soluções construtivas. Tenho ouvido da parte de dirigentes sindicais, sobretudo da Fenprof, uma posição bastante construtiva relativamente a esta matéria", refere, elogiando, depois, a atuação do líder da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira.
"Mário Nogueira tem repetidas vezes dito que é demagógico dizer-se que o descongelamento das carreiras tem um impacto de 600 milhões de euros, porque nunca reivindicaram que tivesse impacto no Orçamento para 2018. Portanto, ao resolver-se o problema para 2018, dá-nos tempo para serenamente podermos olhar para este tema", defende.
António Costa advoga que o Governo cometeria um erro se recusasse liminarmente uma negociação com os professores e, por isso, "deve procurar um entendimento" com as estruturas sindicais.
"Mas, todos temos consciência das limitações que o país tem para poder responder a tudo o que aconteceu [no passado], que deixou marcas profundas", salienta o primeiro-ministro nesta entrevista à Antena 1.
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