Um hospital de grande dimensão terá, em tempos normais, 20 a 30 casos de pneumonia organizativa por ano, diz António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e médico-pneumologista no Hospital de São João ao SAPO24. No entanto, num estudo que foi feito durante a primeira a vaga de covid-19 foram encontrados, num só hospital, 100 casos de “TACs compatíveis com pneumonia organizativa”.
É um aumento "como nunca vimos", diz o médico.
Enquanto a pneumonia, em geral, é uma inflamação, a pneumonia organizativa, em particular, é uma reação inflamatória associada a uma infeção - que persiste mesmo quando essa infeção já não está presente no organismo.
Assim, em casos de pneumonia organizativa com origem em situações de covid-19, a pessoa é dada como curada e livre da infeção provocada pelo SARS-CoV-2, mas os sintomas de falta de ar, tosse, febre ou fadiga persistem.
A patologia não é nova, existindo registos da doença desde os anos 80 e sendo até possível encontrar descrições desta em finais do século XIX. No entanto, apresenta-se agora como mais uma possível consequência do novo coronavírus.
A questão que se coloca neste momento é a da “magnitude”.
Se é verdade que há outras infeções que podem levar a um quadro de pneumonia organizativa, o facto é que, no momento em que vivemos, a covid-19 está a ser a maior causa em termos absolutos.
O tempo de recuperação associado ao tratamento da pneumonia organizativa - que é feito com corticoide - é variável.
Nas pneumonias organizativas criptogénicas, ou seja, sem causa identificada, o tratamento pode durar entre 6 a 12 meses. Já nos casos associados à covid-19, o tratamento poderá ser mais curto, cerca de dois meses, afirma o pneumologista. A explicação é simples: o estímulo que desencadeou a pneumonia, neste caso o SARS-CoV-2, já não está presente no organismo.
Isto não exclui a possibilidade de existirem situações de pneumonia organizativa causadas por infeção de covid-19 em que o tempo de recuperação se prolongará. Isto porque as recidivas não são assim tão raras e os sintomas podem regressar quando já se está a tomar “uma dose baixa de corticoide” ou mesmo “depois de se parar a medicação”, explana António Morais.
Com ou sem recidivas, o tratamento anti-inflamatório com corticoide tem dado bons resultados e a evolução desfavorável é rara. Há uma boa resposta por parte do organismo à terapêutica proposta e "não é algo que ponha a vida da pessoa em risco ou que possa deixar sequelas significativas”, acrescenta o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
O importante é que a situação seja identificada, de maneira a que o quadro clínico possa ser analisado e resolvido em tempo útil.
Assim, “qualquer indivíduo que tenha tido uma infeção por SARS-CoV-2 e tenha uma persistência dos seus sintomas deve fazer um TAC no sentido de despistar esta situação”, independentemente da idade ou de qualquer outro fator, diz António Morais.
Há, porém, casos de “resolução espontânea”, ou seja, pessoas que melhoram sem necessitarem de medicação.
Os hospitais e os centros de saúde estão “organizados com consultas para avaliar os doentes pós-covid”, pelo que quem suspeite que pode ter pneumonia organizativa deve recorrer às mesmas, diz o médico-pneumologista.
Quanto a possíveis grupos possivelmente mais afetados, António Morais afirma que, até à data, há que considerar que esta pneumonia organizativa com origem em covid-19 pode atingir todas as pessoas. Afinal, ainda não há estudos suficientes para afirmar outra verdade.
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