“Neste momento, a desinformação [fake news] é quase ‘old news’ (notícia requentada). Toda a gente sabe que existe. O que está a chegar são as chamadas ‘deep fake’, material áudio e vídeo falso, mas que é tão verdadeiro que não se consegue detetar”, disse Ann Mettler.
A responsável europeia falava à agência Lusa, em Lisboa, durante um evento da Web Summit, que abordou o que é aceitável nas campanhas políticas ‘online’, o papel dos piratas informáticos (hackers) e as consequências das ‘fake news’.
Ann Mettler assinalou que o fenómeno ‘fake news’ está tão disseminado que nos Estados Unidos por cada notícia verdadeira é divulgada uma falsa.
Na Europa, a situação é mais favorável, com a proporção de uma notícia falsa por cada quatro ou cinco verdadeiras, mas a responsável europeia lembra que é preciso estar preparado para a próxima grande ameaça, o designado fenómeno ‘deep fake’.
“Podemos ter um político famoso a dizer e a fazer coisas que nunca fez e isso pode ser muito perigoso, porque ‘online’ as coisas tornam-se virais em minutos. É algo para o qual temos de estar preparados”, acrescentou.
Por isso, defendeu Ann Mettler, a resposta a esta ameaça pode passar por “obrigar as plataformas online a ler estes ‘fakes’, a reconhecê-los e a retirá-los”.
A responsável considerou “urgente” o desenvolvimento de tecnologia que permita fazer essa monitorização.
“Não confio a 100% que venha a ser feito como é preciso, mas temos de debater, do ponto de vista das políticas públicas, como nos preparamos para isso. Não temos a solução ainda, mas é preciso assinalar e enfatizar o desafio”, disse.
Ann Mettler apontou o exemplo das últimas eleições francesas como um caso de sucesso na neutralização do efeito ‘fake news’, sustentando que deve ser estudado.
A campanha de Emmanuel Macron, em França, conseguiu neutralizar a interferência na eleição, criando conteúdos falsos em larga escala, causando um efeito de confusão e protegendo-se do “abuso de informação” recebido pelos ‘hackers’.
Ann Mettler sustentou também que existe na Europa mais consciência da existência e dos efeitos da desinformação.
“Na Europa, há mais consciência e media de qualidade. O jornalismo responsável, que verifica os factos e que se assegura que o que vemos e lemos é um reflexo da realidade, faz toda a diferença”, sublinhou.
Ainda assim, a responsável adiantou que há receio de interferência russa nas próximas eleições europeias de maio, mas assegurou que “muito está a ser feito” para “criar uma rede de segurança e proteger” o escrutínio.
“Podemos fazer mais. Precisamos de mais transparência na publicidade ‘online’. Precisamos de saber quem paga estes anúncios políticos”, exemplificou, considerando que deve servir de alerta se os serviços de uma empresa nos EUA ou na Europa forem pagos em rublos.
“Sabemos que os ataques existem, que vão chegar, e podemos preparar-nos para eles. O que me preocupa são as novas formas de ataque”, disse.
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