“Sejam mais espertos do que eles, afastem-se da polícia”, gritava esta manhã Élisabeth, colete amarelo vinda de La Somme, no Norte de França.
Tal como outros, tentava organizar a primeira manifestação autorizada do movimento em Paris, que partiu dos Campos Elísios em direção à Bolsa.
A segunda acontecerá entre a Câmara Municipal de Paris e a Assembleia Nacional a seguir ao almoço.
“Estamos a tentar organizar as coisas, mas cada um é livre de ir onde quiser. Temos a autorização para fazer esta manifestação, e foi também por isso que decidi estar presente, e do nosso lado passa-se bem. É preciso que do lado deles também”, afirmou Élisabeth à agência Lusa, apontando para a polícia à frente das Galerias Lafayette.
Do lado da polícia, as medidas de segurança foram suavizadas. As lojas e restaurantes estão abertos e os parisienses fazem a sua vida normal entre os protestos que, entretanto, já se tornaram habituais.
“Paris e os seus arredores não compreendem as nossas dificuldades. Sempre que venho aqui para me manifestar tento dizer às pessoas que estamos na rua por todas as classes sociais”, acrescentou ainda Élisabeth.
Sem incidentes de maior, a manifestação da manhã chegou à Bolsa de Paris, mas ao contrário do que seria de esperar, o maior alvo de vaias não foi a alta finança francesa, mas sim a sede da Agence France Presse, agência noticiosa de França, que se encontra também na praça. Aqui, os manifestantes gritavam insultos e pediam aos jornalistas que descessem.
“Eu quero que os jornalistas desçam para mostrar a sua coragem. Queremos que eles digam a verdade sobre o que se passa. A Agence France Presse não diz a verdade, é a favor do Governo e trafica informações”, disse Arnaud, colete amarelo vindo Fontainebleu, à agência Lusa.
Arnaud, tal como outros coletes amarelos, afirma que as notícias veiculadas pelos meios de comunicação em França são “filtradas pelo Governo” e que o movimento dos coletes amarelos é mostrado como “um bando de anti-semitas e de extremistas de esquerda e de direita”.
Confrontado sobre o facto de já terem acontecido diversos incidentes extremistas nas manifestações, o francês respondeu: “Há extremistas, tal como todos os movimentos, mas há um direito fundamental à liberdade de expressão”.
“O Governo faz tudo para nos descredibilizar face aos franceses e no estrangeiro. Se os meios de comunicação fizessem o seu trabalho estavam aqui na rua connosco, mas temos jornalistas que são abertamente a favor do Governo”, disse ainda Arnaud. Também na semana passada, vários coletes amarelos se manifestaram em frente às sedes da televisão BFM TV e da France Televisions, a televisão pública francesa.
Esta é uma jornada de teste para o movimento dos coletes amarelos que tem vindo a perder fôlego nas últimas semanas e também popularidade devido à violência demonstrada nas manifestações de novembro e dezembro, não só em Paris, mas um pouco por toda a França.
Ao mesmo tempo que decorrem as manifestações do apelidado ato oito, já que este é o oitavo sábado consecutivo de protestos, vários grupos de coletes amarelos estão reunidos tendo em vista a constituição de um movimento cidadão que poderá tentar concorrer às eleições europeias.
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