“As avós vieram à greve. E tu? Vais ficar a fazer croché?” desafiava um cartaz que a idosa Emília Gonçalves ajudava a segurar, plena das suas convicções, lamentando à Lusa que “houve demasiado tempo gente desatenta a este assunto.”
“Nós estamos a dar o exemplo (…) para que os mais velhos entrem também nisto, neste mundo novo”, acrescentou a sénior que se afirmou “muito preocupada com o planeta” que vai deixar aos bisnetos, culpando a “falta de informação” para justificar o facto da sua geração “não ter agido há 20 anos”.
Ainda assim mantém-se otimista: “acho que ainda vamos a tempo”.
José Moutinho, um dos responsáveis da região Norte pela Greve Climática Estudantil, observou à Lusa que a “sensibilidade da comunidade escolar está em crescendo em Portugal”.
Sobre as mensagens para a concentração no Porto falou de apelos “ao esforço individual para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, da produção de lixo e para a ação governamental, que é uma grande falha no país e não só”.
“A Greta [Thunberg] foi a grande impulsionadora deste movimento e cabe-nos agora abrir os olhos a outros jovens e a adultos tentando fazer proliferar ao máximo este movimento”, disse José Moutinho acerca da ativista sueca criadora da greve estudantil pelo clima.
Ostentando nas costas um cartaz onde se lia “Mais vale um pássaro na mão que o CO2 a voar”, João Leal defendeu terem sido as greves “quem demorou algum tempo a surgir”, uma vez que a “reação [dos jovens] está a ser bastante rápida”.
“Faltava alguém simbólico, podia ser a Greta ou outra pessoa qualquer que levasse as coisas para algo mais sério, com mais emoção e não apenas dados científicos”, refletiu o jovem que deixou elogios à ativista sueca.
Para João Leal, a emoção de Greta na mensagem lida nas Nações Unidas “foi genuína”, prosseguindo o raciocínio ao afirmar que se pode avaliar o que ela disse, “mas as lágrimas e o tom que ela empregou foi a reação emocional a um desespero, a uma catástrofe ambiental” e que “acaba por ligar mais as pessoas”.
Questionado pela Lusa se a mensagem dela chegou ao destino, considerou ser “talvez seja ainda um bocadinho cedo”, mas garantiu que os jovens “agora estão atentos” pois “sentem que é um exemplo muito valioso para eles”.
Do clima para os partidos políticos disse ser “algo de novo” e que “nenhum programa eleitoral pode ficar sem o mencionar, mesmo que não seja para levar a sério”.
“Os jovens têm muito mais futuro que passado e para eles é muito fácil imaginar, conceber o mundo sem água potável e um clima em Portugal como o de Marrocos. Os mais velhos têm um bocadinho mais de resistência por serem de outra geração e estão preocupados com outros problemas sociais. Este é o maior problema de sempre da humanidade”, resumiu do conflito de opiniões que se assiste na opinião pública.
Marta Nicolau optou por um cartaz em inglês, alertando para a urgência da intervenção, pois “não é em 2050 que isto se vai resolver” pois só há “tempo até 2030 para evitar o ponto de sem retorno”.
Afirmando querer “fazer parte da história e das pessoas que estiveram aqui a lutar pelo nosso direito de ter um futuro sustentável e não um em que se tenha de andar com máscaras”, a jovem concordou que a preocupação vincada pelos jovens ainda não tem uma grande tradução no dia a dia.
“Há uma preocupação cada vez maior [entre os jovens] e a noção que de temos de agir, mas às vezes as ações não estão lá. E é nessa parte que talvez a educação seja precisa. Cabe à escola esse papel de passar a informação”, acrescentou.
Na manifestação que decorreu entre a Praça da República e a Avenida dos Aliados estiveram o secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares Duarte Cordeiro, bem como candidatos a deputados do PCP, Bloco de Esquerda e do Livre.
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