A informação foi avançada hoje à Lusa por uma das cinco jornalistas portuguesas que trabalham no serviço de rádio em língua portuguesa da emissora pública TDM.
Outra jornalista confirmou a demissão e que a decisão resultava da polémica sobre a linha editorial assumida pela empresa.
A Agência Lusa contactou a direção do serviço de rádio em língua portuguesa da TDM que não quis fazer comentários sobre esta situação.
A 10 de março, foram transmitidas diretrizes aos jornalistas da TDM, proibindo-os de divulgar informações contrárias às políticas da China e instando-os a aderir ao “princípio do patriotismo” e do “amor a Macau”.
As orientações foram criticadas nos dias seguintes pela Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) e o Sindicato de Jornalistas de Portugal, assim como pela Associação de Jornalistas de Macau, que representa repórteres dos ‘media’ de língua chinesa.
A polémica levou a administração da Teledifusão de Macau (TDM) a anunciar, na semana passada, que o manual editorial da empresa pública de rádio e televisão vai continuar a ser cumprido, após uma reunião com “jornalistas da Direção de Informação e Programas Portugueses”, reiterando, no entanto, a adesão ao “princípio do patriotismo” e do “amor a Macau”.
Hoje, os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) anunciaram que iriam incluir Macau na sua lista de monitorização, que analisa a liberdade de imprensa em 180 países, após a ameaça de “censura” na Teledifusão de Macau.
Na classificação da liberdade de imprensa estabelecida anualmente pelos RSF, figurava apenas Hong Kong, que chegou a ser considerado um bastião da liberdade de imprensa, mas caiu do 18.º lugar, em 2002, para 80.º em 2020, enquanto a China continental é 177.º em 180 países, numa lista que até aqui deixava Macau de fora.
O responsável dos RSF na Ásia acrescentou que a TDM pode converter-se num “órgão de propaganda” da China, devido à “censura da direção”.
Em comunicado, os Repórteres Sem Fronteiras condenaram igualmente, em 19 de março, “a interferência editorial da direção das emissoras públicas de Hong Kong e Macau”, considerando que a sua independência estava “ameaçada pela censura da administração”, e instaram “os governos das duas regiões administrativas especiais [RAE] a cessar os seus ataques à liberdade da imprensa”.
Governo de Macau nega restrições
O chefe do Governo de Macau negou hoje que o território esteja a impor restrições à liberdade de imprensa e que acredita que os ‘media’ são patrióticos e amam a região administrativa especial chinesa.
As declarações, citadas pelo Diário de Macau (órgão de comunicação social em língua chinesa), foram realizadas após uma receção em honra do novo comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da república Popular da China, Liu Xianfa.
As palavras de Ho Iat Seng surgem depois da polémica sobre uma diretiva da TDM – Teledifusão de Macau que exige uma linha editorial patriótica, na qual se proíbe a divulgação de informações e opiniões contrárias às políticas da China, mas também após a exigência das autoridades de serem omitidas notícias ‘online’ nos dias de reflexão e da eleição para a Assembleia Legislativa que possam ser classificadas de propaganda.
O chefe do executivo salientou que a liberdade de imprensa não foi restringida e que não houve instruções sobre esta matéria.
Segundo o Diário de Macau, Ho Iat Seng disse ainda acreditar que todos os meios de comunicação social em Macau são patrióticos e que amam o território.
A transferência da administração de Macau ocorreu no final de 1999, pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong.
Na lei básica de Macau, miniconstituição do território que deverá estar em vigor até 2049, lê-se que “os residentes de Macau gozam da liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação”.
As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, exceto na diplomacia e na defesa.
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