O projeto, financiado por fundos europeus, está a ser concebido por investigadores do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) e do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, ambos em Braga.
Trata-se de um ‘chip’ com sensores de grafeno capazes de detetar todas as estirpes do parasita da malária humana através da análise da presença do seu ADN (material genético) numa gota de saliva ou urina de um doente. O desenho do dispositivo está atualmente a ser trabalhado por uma equipa do INL.
Joana Guerreiro, uma das investigadoras do INL envolvidas no projeto e especialista em biossensores, descreveu à Lusa que o ‘chip’ descartável, do tamanho de um cartão de telemóvel, poderá ser introduzido com a amostra de fluidos num aparelho reutilizável, com as dimensões de um cartão de crédito, que, ligado a um dispositivo móvel como um computador ou telemóvel equipado com um ‘software’ de leitura apropriado, dará o resultado para a doença: positivo ou negativo, como se fosse um teste rápido de gravidez.
Comparativamente às técnicas convencionais de análise de ADN já usadas para diagnosticar a malária, o teste que está a ser desenvolvido pelas equipas do INL e do ICVS pretende ser um método mais rápido, barato, portátil e fácil de utilizar, inclusive por pessoal não técnico, para detetar a doença quando os sintomas ainda não se manifestaram e, assim, contribuir para dar ao doente o tratamento adequado de forma mais célere.
A ser bem-sucedido, o teste pode ser utilizado tanto nas regiões tropicais e mais pobres, onde a malária é endémica, como em locais de grande circulação de pessoas que possam ‘importar’ a doença, como os aeroportos. A tecnologia poderá, eventualmente, ser replicada na deteção de outras doenças infecciosas, como a tuberculose.
O recurso ao grafeno, já aplicado em sensores para detetar bactérias no vinho, deve-se, segundo a investigadora do INL Joana Guerreiro, à “alta sensibilidade” do material, que permite um diagnóstico preciso, nomeadamente das várias estirpes do parasita da malária, e à sua “elevada estabilidade”, que o torna resistente a variações de temperatura e humidade, típicas das regiões tropicais.
Pedro Ferreira, cientista especialista no estudo da malária que coordena a equipa do ICVS no projeto, espera que o dispositivo possa estar pronto em 2020, para ser validado em 2021 em doentes por comparação com pessoas saudáveis e com os métodos convencionais de análise de ADN.
O projeto obteve um financiamento comunitário inicial de 100 mil euros, ao abrigo do programa Horizonte 2020, e, como adiantou o investigador à Lusa, pode vir a ser aperfeiçoado para detetar no ADN do parasita da malária variações genéticas resistentes a medicamentos antimaláricos e, desta forma, adequar a terapêutica ao doente.
A malária é uma doença infecciosa causada pelo parasita do género “Plasmodium”, que se transmite às pessoas pela picada do mosquito do género “Anopheles”. Os sintomas mais comuns são febre, fadiga, vómitos e dores de cabeça. A espécie do parasita mais mortífera para os humanos é o “Plasmodium falciparum”.
O diagnóstico da doença faz-se, atualmente, através de análises ao sangue para detetar o parasita ou anticorpos e de técnicas para identificar o ADN do parasita, que são mais morosas, caras e complexas.
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