“Estamos a viver dias estranhos… [Chipre] tornou-se sobretudo um problema económico. Diferentes poderes decidem como é que o jogo evolui, não é uma decisão exclusiva do povo”, disse, em entrevista à Lusa, Antonis Antoniou, um dos músicos da banda cipriota que saltou das ruas para os palcos.
De acordo com Antoniou, “Rússia, Estados Unidos, União Europeia, todos têm os seus interesses” numa região geograficamente importante, e “todos estão envolvidos e querem ter algo a dizer”.
“Sentimos Chipre como uma única entidade, porque há duas comunidades principais, mas há também outras comunidades a viverem na ilha. Acreditamos que Chipre é um só, com todas as comunidades que dele fazem parte”, sustenta o músico.
“Atualmente vivemos em Nicósia, que é uma cidade dividida e é difícil, temos de lidar com isso todos os dias, é a nossa realidade. Queremos mesmo que esta loucura acabe”. É um sítio muito pequeno, uma ilha muito pequena. As pessoas são basicamente as mesmas, têm a mesma mentalidade, com apenas algumas diferenças, religiosas, linguísticas”, descreve.
A divisão da ilha, antiga colónia britânica, prevalece desde 1974, quando as tropas turcas invadiram o norte do território em resposta a uma tentativa de golpe falhado de nacionalistas cipriotas gregos, que pretendiam concretizar a união de Chipre à Grécia.
“Há muita música comum, uma cultura comum. As pessoas viviam juntas, no passado”, recorda, reconhecendo que a parte norte da ilha ficou isolada, também a nível cultural, sem festivais de música para os artistas mostrarem o seu trabalho, por exemplo.
“Tudo foi afetado por isso, a cultura também. Os mais novos tiveram de se mudar para Istambul ou outros sítios para terem liberdade”, frisa, sublinhando que a banda atua regularmente na parte norte, de maioria turca, e que ali colabora com artistas locais.
Os Monsieur Doumani tocaram em Porto Covo na sexta-feira, onde o Festival Músicas do Mundo prossegue hoje e domingo, seguindo depois para Sines, até 28 de julho.
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