Em declarações à imprensa após participar numa reunião de chefes de diplomacia da União Europeia, Santos Silva, questionado sobre a chegada, hoje, a Portugal, de um grupo de cerca de 270 refugiados afegãos, confirmou a informação, apontando que o grupo em causa “já terá aterrado ou está a aterrar” em solo português, e apontou que este é o desfecho de um processo “de várias e várias semanas”.
O ministro explicou que “o contexto desta chegada é o contexto do apoio de Portugal a refugiados afegãos com prioridades muito claras e muito bem definidas”, lembrando aquelas que foram definidas por ocasião da tomada do poder pelos talibãs, em agosto passado, uma das quais a de prestar apoio a “pessoas especialmente vulneráveis a perseguições” por parte do novo regime.
Recordando que a primeira prioridade “naturalmente era retirar todos os cidadãos portugueses que estavam em Cabul no dia 15 de agosto”, que a segunda era “apoiar a saída de todos os cidadãos afegãos que tinham colaborado com as forças portuguesas destacadas”, a terceira a de prestar apoio a “cidadãos afegãos que tivessem colaborado com organizações internacionais a que Portugal pertence e dentro da solidariedade interna dessas organizações (casos da ONU, NATO e UE)”, o ministro apontou então a quarta prioridade, no contexto da qual ocorre a chegada deste grupo.
“A quarta prioridade era e é apoiar a saída de pessoas especialmente vulneráveis a perseguições da parte do regime talibã, ou por serem ativistas de direitos humanos, ou por serem jornalistas, ou por serem ex-funcionários da administração anterior afegã, ou por serem mulheres, que, por serem desportistas, por serem músicas, por serem profissionais, são vulneráveis a perseguições do lado do Afeganistão”, explicou.
Apontando que Portugal tem “cumprido estas prioridades em cooperação com organizações”, de modo a que o seu apoio “seja o mais eficiente possível”, Santos Silva indicou então que Portugal definiu como uma das necessidades a de apoiar o Instituto Nacional de Música do Afeganistão (ANIM no seu acrónimo inglês), e confirmou que, “ao fim de várias e várias semanas, porque estes processos são sempre muito complexos, já terá aterrado ou está a aterrar um grupo de 270 pessoas, jovens músicas da orquestra deste instituto e respetivos familiares, que serão acolhidos em Portugal, sendo objeto das medidas de apoio ao acolhimento e à primeira integração que caracterizam a resposta de Portugal em matéria humanitária e de apoio aos refugiados”.
Questionado sobre os perigos concretos que ameaçavam estas pessoas, o chefe da diplomacia respondeu que “basta pensar que a participação de mulheres no desporto e na música foi banida e, aliás, a música foi banida pelo regime talibã, para perceber os perigos que corriam”.
Santos Silva enfatizou que designadamente as jovens músicas enfrentavam “não só os perigos físicos, mas também da negação do seu direito, delas, estudantes de música, em prosseguirem um projeto de vida ligado à música”.
“E, portanto, essa é, do nosso ponto de vista, razão bastante”, completou.
A terminar, Santos Silva, reforçando que “o processo foi naturalmente muito demorado”, revelou que, teve ocasião, no almoço de trabalho de hoje dos 27 com o ministro dos Negócios Estrangeiros e vice-primeiro-ministro do Qatar, “de agradecer, pessoal e publicamente, ao Qatar” o apoio “inestimável” dado neste processo, “visto que este grupo passou por Doha e foi apoiado pelas autoridades de Doha durante algumas semanas”.
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