Um pequeno vídeo, de sete segundos, que circula nas redes sociais, mostra António Costa numa conversa privada com os jornalistas do Expresso alegadamente chamando “cobardes” a médicos envolvidos no caso do surto de covid-19 em Reguengos de Monsaraz.
O Expresso já repudiou, numa nota da Direção, a divulgação desse vídeo. “Os sete segundos do vídeo ilegal descontextualizam quer a entrevista, quer a conversa que o primeiro-ministro teve com o Expresso”, refere a nota, acrescentando que o jornal “desencadeará, de imediato, os procedimentos internos e externos para apurar o que aconteceu e os responsáveis pelo sucedido”.
Num comunicado a propósito do vídeo, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, diz que os médicos quando encabeçaram a luta contra a covid-19 “dia e noite, correndo risco de vida e permitindo a António Costa alavancar a popularidade à custa do seu esforço”, esses médicos eram os heróis do país.
“Quando começaram a apontar claros indícios de falhas do Estado no tratamento de doentes, nomeadamente os mais idosos, passaram a ser ´cobardes´, a não ter competência para elaborar relatórios e a serem criticados por terem opinião nas televisões”, diz o líder centrista, concluindo que o primeiro-ministro “deve retratar-se publicamente e retirar imediatamente o ataque feroz que desferiu à classe profissional”.
Já num comunicado assinado pela direção nacional o Chega fala-se de “absoluta falta de decência, tolerância democrática e desrespeito por uma das classes que mais tem sido afetada no âmbito da pandemia de covid-19”.
“Estas declarações, agora tornadas públicas, ainda que de forma inadvertida, são gravíssimas e demonstram um estado de desorientação considerável e uma agressividade incompreensível para com todos os médicos e com o setor da saúde em geral”, diz o Chega, acrescentando que no atual contexto “dificilmente o primeiro-ministro tem condições para continuar no cargo” e assumir a liderança da luta contra a covid-19”.
O Presidente da República, acrescenta o partido, “tem de repreender fortemente o primeiro-ministro ou não estará a exercer dignamente a função de Chefe de Estado que os portugueses lhe confiaram”.
Também em comunicado a propósito do vídeo, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) começa por esclarecer que os médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) “não são médicos de lares” e que a determinação da Administração Regional de Saúde do Alentejo em “alocar ao lar” em questão equipas de médicos estava “ferida de ilegalidade face às convenções coletivas de trabalho”.
“No que se refere aos médicos das Unidades de Saúde Familiar, a própria Portaria n.º 1368/2007, de 18 de outubro, estabelece explicitamente que está excluída a prestação de cuidados de saúde em lares, casas de repouso, IPSS, e outros locais semelhantes (tabela II - núcleo base de serviços clínicos)”, acrescenta o SIM, dizendo que mesmo assim médicos da Unidade de Saúde Familiar Remo foram ao lar após o diagnóstico do primeiro caso.
Afirmando que os doentes têm direito a cuidados de saúde de qualidade e que os médicos direito a exigir condições técnicas para cumprir a sua função, o SIM acrescenta: “lamentamos, reprovamos e repudiamos em absoluto as palavras de Vossa Excelência”, e diz que “os médicos merecem e exigem respeito, muito mais partindo do chefe do Governo”.
O surto de Reguengos de Monsaraz provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar, e morreram 18 pessoas, 16 delas utentes do lar. A Procuradoria-Geral da República instaurou um inquérito. Um relatório da Ordem dos Médicos aponta para o incumprimento das orientações da Direção-Geral da Saúde.
O vídeo do primeiro-ministro surge no âmbito da entrevista ao Expresso publicada no sábado.
O jornal explica em comunicado que o que foi divulgado nas redes sociais foi “uma gravação amadora de um ecrã de computador, que reproduz uma recolha de imagens de uma conversa off the record, privada, do primeiro-ministro dom jornalistas”.
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