Há 2.466 jovens médicos para se candidatarem à formação especializada no próximo ano para um número provisório de 1.719 vagas, uma diferença superior a 700.
Segundo o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, trata-se do maior número de sempre de vagas propostas de acordo com a capacidade de formação do país, mas que ainda assim deixará de fora algumas centenas de candidatos, além daqueles que acabam por desistir para se recandidatarem no ano seguinte.
A Ordem dos Médicos, que já entregou à Administração Central do Sistema de Saúde o mapa provisório de capacidades formativas para 2018, exige que o Governo melhore a capacidade formativa e reequacione as vagas dos cursos superiores.
“O número de médicos que podem ficar sem acesso à especialidade será maior do que o ano passado. Este ano existem mais vagas mas continuam a existir internos que podem não ter acesso à especialidade”, declara à agência Lusa o bastonário, para quem este ano o número de jovens médicos que ficará de fora deverá aumentar em relação ao ano anterior.
Mesmo que algumas dezenas de jovens acabem por desistir de se candidatar por não conseguirem nota no exame de acesso à especialidade que pretendem, repetindo-o no ano seguinte, muitos outros ficarão de fora ainda que não seja essa a sua opção.
Entre os 2.466 médicos formados e candidatos à especialidade para 2018 há 392 que são formados no estrangeiro e que têm direito a realizar a especialidade em Portugal.
“Há um excesso de estudantes de medicina. Em cada ano entram cerca de 1.800 estudantes nos cursos de medicina, quando não temos capacidade formativa para isso”, afirmou Miguel Guimarães.
Para a Ordem dos Médicos, ao longo dos anos os ministérios do Ensino Superior e da Saúde foram aumentando “de forma incompreensível” o número de vagas para acesso aos cursos de medicina, sem compreenderem o impacto dessa medida.
Só entre 1995 e 2014 o ‘numerus clausus’ nos cursos de medicina aumentou 396%.
“O ‘numero clausus’ devia ser adaptado àquilo que é a real capacidade formativa das escolas médicas”, defende Miguel Guimarães, vincando que o Governo deve atuar no sentido de melhorar a formação pré-graduada, até porque os próprios diretores de faculdades reconhecem que têm estudantes a mais.
Além deste problema, a Ordem sustenta que “é um imperativo nacional” investir no Serviço Nacional de Saúde (SNS), quer ao nível de recursos humanos como de equipamentos, para aumentar a capacidade de formação.
Ou seja, se o Ministério da Saúde corrigisse as deficiências existentes no SNS, melhorava a capacidade de formar especialistas, ao mesmo tempo que melhorava a qualidade dos cuidados de saúde.
“Podíamos ter em Portugal ainda mais vagas para formar internos, mais algumas centenas, desde que os serviços estivessem de facto completos: com os especialistas que deviam existir, com os serviços devidamente equipados e também com uma estrutura física necessária”, frisa o bastonário.
Este alerta da Ordem surge na semana em que decorre a Mostra de Especialidades Médicas, um evento organizado pelo Conselho Nacional do Médico Interno, que pretende ajudar os jovens médicos internos no processo de escolha de especialidade.
Esta mostra decorre esta semana no Porto e em Lisboa e em Coimbra no início de maio.
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